terça-feira, 7 de maio de 2019

Zé Ramalho (Universos de Versos Diversos)


CHÃO DE GIZ

Eu desço dessa solidão
Espalho coisas
Sobre um Chão de Giz
Há meros devaneios tolos
A me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas
Amiúde!

Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe
Um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar, quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus

Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom

Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado
No seu calcanhar
Meus vinte anos de boy
That's over, baby!
Freud explica

Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom

Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular

No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais, estou indo embora!
No mais!

AVÔHAI

Um velho cruza a soleira
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde quarava
Sua camisa e seu alforje de caçador

Oh meu velho e invisível
Avôhai
Oh meu velho e indivisível
Avôhai

Neblina turva e brilhante
Em meu cérebro, coágulos de sol
Amanita matutina
E que transparente cortina
Ao meu redor

E se eu disser que é mei sabido
Você diz que é mei pior
E pior do que planeta
Quando perde o girassol

É o terço de brilhante
Nos dedos de minha avó
E nunca mais eu tive medo da porteira
Nem também da companheira
Que nunca dormia só

Avôhai!
Avôhai!
Avôhai!

O brejo cruza a poeira
De fato existe um tom mais leve
Na palidez desse pessoal
Pares de olhos tão profundos
Que amargam as pessoas que fitar

Mas que bebem sua vida
Sua alma na altura que mandar
São os olhos, são as asas
Cabelos de avôhai

Na pedra de turmalina e no terreiro da usina eu me criei
Voava de madrugada e na cratera condenada eu me calei
E se eu calei foi de tristeza você cala por calar
E calado vai ficando só fala quando eu mandar

Rebuscando a consciência com medo de viajar
Até o meio da cabeça do cometa
Girando na carrapeta no jogo de improvisar
Entrecortando eu sigo dentro a linha reta
Eu tenho a palavra certa
Pra doutor não reclamar

Avôhai! Avôhai!
Avôhai! Avôhai!

MISTÉRIOS DA MEIA-NOITE

Mistérios da Meia-Noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão, se ficam
Quem vai, quem foi

Impérios de um lobisomem
Que fosse um homem
De uma menina tão desgarrada
Desamparada se apaixonou

Naquele mesmo tempo
No mesmo povoado se entregou
Ao seu amor, por quê?
Não quis ficar como os beatos
Nem mesmo entre Deus
Ou o capeta
Que viveu na feira

Mistérios da Meia-Noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão, se ficam
Quem vai, quem foi

Impérios de um lobisomem
Que fosse um homem
De uma menina tão desgarrada
Desamparada, se apaixonou

Naquele mesmo tempo
No mesmo povoado se entregou
Ao seu amor, por quê?
Não quis ficar como os beatos
Nem mesmo entre Deus
Ou o capeta
Que viveu na feira

Mistérios da Meia-Noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão, se ficam
Quem vai, quem foi

Impérios de um lobisomem
Que fosse um homem
De uma menina tão desgarrada
Desamparada, seu professor

Naquele mesmo tempo
No mesmo povoado se entregou
Ao seu amor, por quê?
Não quis ficar como os beatos
Nem mesmo entre Deus
Ou o capeta
Que viveu na feira

Mistérios da Meia-Noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão, se ficam
Quem vai, quem foi

Impérios de um lobisomem
Que fosse um homem
De uma menina tão desgarrada
Desamparada, seu professor

O GOSTO DA CRIAÇÃO

Somos o mundo girando no meio da imensidão
Algo que tem a verdade e o gosto da criação
Somos o muito e o pouco na múltipla sensação
Quando sacode a poeira do sagrado chão

Luzes explodem além do espelho que refletiu
Ao se afastar a imagem de alguém que você não viu
Não adianta mudar o destino que prosseguiu
Nem afastar o desejo que você sentiu

Como saber da final esperança pra saber
Que há fartura e muita bonança pra dizer
Onde fica o mágico fim é assim
É você e o gosto de mim

Pra saber onde fica o mágico fim é assim
É você e o gosto de mim

PORTA DE LUZ

De onde vem
Essa mania de saber
Como é bom
Quando estou perto de você
Parece o mundo
Que acabou de começar
Num movimento
De paixão e de silêncio

De onde foi
Que essa estrela apareceu
Que oceano ou que céu iluminou
A minha estrada tão comprida
Vai chegar ao seu final
Quando abraçar você

Só agora compreendi
Que o caminho que segui
Veio dar na sua porta de luz
Tudo agora está tão fácil
E seguro para nós
Minha voz está bem dentro da sua

Se for buscar
Aquele sonho
Eu vou
Para provar
Que amo só você

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