A Estalagem Vermelha (1831)
Conto que é umas das primeiras obras que Balzac assinou com seu nome, daí seu clima ainda levemente gótico. Uma das teses do autor é que "na raiz de toda grande fortuna existe um crime" e aqui conta-se como o banqueiro Taillefer construiu a sua. Assim, temos dois médicos que passam a noite numa taverna; um terceito hóspede traz consigo muito dinheiro e aparece morto; todas as provas são contra um dos amigos, que realmente teve a ideia de matá-lo, porém desistiu no último segundo; mesmo assim, aceita sua condenação à morte, pois se sente culpado; sua ideia do assassinato fora transmitida telepaticamente a Taillefer, o outro médico, que é o verdadeiro criminoso e se cala para ficar com a fortuna.
Mas o conto não acaba aí: Balzac empregou uma técnica complexa e inovadora, onde a história é contada pela única pessoa que conhecia a trama, estando presentes, entre outros, Taillefer e seu futuro genro, que o desmacara intimamente graças a um pequeno detalhe.
Daí, o dilema: é imoral aceitar riquezas sabidamente advindas de um ato criminoso?
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A Menina dos Olhos de Ouro (1835)
Esta noveleta é a terceira e última obra do subgrupo "História dos Treze", que também compreende Ferragus ou o Chefe dos Devoradores e A Duquesa de Langeais. Balzac, amante da literatura gótica e do romance histórico, acreditava em transmissão de pensamentos (que ainda não havia obtido o nome definitivo de telepatia), ocultismo, fisiognomia e, praticamente, qualquer outra teoria extra-científica com a qual se deparasse. Além disso, tinha uma queda por sociedades secretas, que aparecem mais de uma vez na Comédia e que são resquícios do que produzia no início de sua carreira.
A Sociedade dos Treze é formada por treze amigos que juraram ajudar uns aos outros sempre que houvesse necessidade. Aqui, o cínico e amoral dândi Henrique de Marsay, personagem donjuanesco caro a Balzac, persegue a misteriosa Paquita Valdés por uma Paris surreal, numa trama complexa, onde nada é muito claro e tudo é surpreendente. Balzac, como autoproclamado "historiador de costumes", não fugia dos tabus de sua época e, com a ousadia que chegou a lhe trazer muitos aborrecimentos, trata aqui do lesbianismo, um tema do qual foi virtualmente o pioneiro.
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A Missa do Ateu (1836)
Um dos contos mais apreciados de Balzac, escrito em uma única noite. O doutor Bianchon, personagem recorrente e a quem o próprio Balzac teria invocado em seu leito de morte, vê seu mestre, o cirurgião Desplein, entrar numa igreja e assistir contrito à missa e distribuir esmolas. Ora, Desplein é conhecido pelo seu ateísmo. Um ano depois, a mesma cena se repete. Curioso, Bianchon interpela-o e recebe uma resposta surpreendente, que coloca em dúvida diversos preceitos religiosos.
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A Obra-Prima Ignorada (1832)
Conto cuja ação se passa no século XVII e que, portanto, não tem ligação com o restante d'A Comédia Humana. Estamos aqui no terreno das artes plásticas, que Balzac tanto prezava. Mestre Frenhofer pinta sua tela, mas nunca se satisfaz com o resultado e põe-se a refazê-la obsessivamente, pois seu desejo é chegar à essência da arte. Contudo, essa sede de perfeição porá tudo a perder, inclusive sua sanidade. É o conceito de que "o pensamento mata o pensador", presente em diversas obras dos Estudos Filosóficos, além desta, como A Procura do Absoluto e A Pele de Onagro. Há suspeitas de que as ideias sobre pintura expostas na história são, na verdade, de Delacroix, grande amigo do autor. Para Paulo Rónai, "esta obra estranha (...) representa, com A Missa do Ateu e A Paz Conjugal, o apogeu alcançado por Balzac no domínio do conto".
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A Pele de Onagro (1831)
Este romance é sua obra mais importante entre aquelas do início da carreira, quando ainda escrevia sob a influência da literatura gótica. Em um clima de pesadelo, esta narrativa simbólica é a história de Rafael de Valentin, que vem a possuir uma pele de onagro. Essa pele misteriosa, cuja origem pode ser oriental, permite a satisfação de todos os desejos, porém vai diminuindo de tamanho, enquanto também diminui o tempo de vida de seu possuidor.
Há vários pontos de contato entre Rafael e Balzac: ambos escreveram um tratado filosófico, o "Tratado da Vontade" (Balzac era adolescente), ambos moraram em sótãos enquanto passavam por privações e ambos tiveram de enfrentar encarniçados credores.
Obra de transição ou aprendizado, há nela dois elementos díspares: a tentativa realista, que ficou em segundo plano, de pintar o retrato fiel de uma mulher manipuladora e a presença do fantástico, representada pelo objeto mágico, que acaba por se impor. Grande sucesso de público à época da publicação, o livro não foi bem visto pela crítica. Contudo, sua importância cresceu com o passar do tempo e hoje, relevando-se alguns defeitos de construção, é visto como sua primeira obra-prima.
Fonte:
Wikipedia
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