segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Roberto Rodrigues de Menezes (Mitologia em Poema) 5 – Pigmalião


Considerado em sua era d’ouro,
grande escultor, artífice sem par.
Na sua faina tinha sempre os louros,
gênio da arte, talento a criar.

Mas às mulheres devotava, inteiro,
desprezo sempre, nelas só defeitos.
Por tal razão permaneceu solteiro,
dedicando-se à arte e seus preceitos.

Ousou criar uma estátua tão bela,
de uma mulher, rivalizando esta,
com as mais lindas e puras donzelas
de todo reino, de todas as festas.

Por tão perfeita obra se apaixona,
dá-lhe vestidos, brincos e colares.
De seu carinho será casta dona,
único tema de doces cantares.

Sente da pedra a frieza insana,
para beijar sem pejo os lábios duros.
Chora o desejo de torná-la humana,
para que goze dos amores puros.

Mas eis que em Chipre da deusa o festim,
Vênus, do amor, começa com seus cânticos.
No belo templo, no altar carmesim,
ele oferendas tece em ais românticos.

A Vênus pede que a estátua seja
de carne, sangue, de amor perfeito.
A deusa atende, ele o altar beija,
e nas mulheres não vê mais defeito.

A casa chega, corre pressuroso
para beijar a estátua estremecida.
Beija seus lábios de contorno airoso
e sente neles o calor da vida.

Abraça o corpo, que ao toque enternece.
Sente suas carnes quentes e sedosas.
Celebra Vênus, sua paixão parece
ser infinita, tudo, enfim, esquece.

Ele a recebe em cândido himeneu.
O amor vivido gera um filho amado,
que ao crescer um belo templo ergueu
à deusa Vênus, em solo sagrado.

Fonte:
Fénix (Carmo Vasconcelos)

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