domingo, 13 de dezembro de 2020

Olivaldo Júnior (Na Hora do Almoço)


Foi mais ou menos há duas semanas, num pequeno restaurante do Centro da Cidade, na hora do almoço. Raramente almoço lá, mas, de vez em quando, isso acontece. Geralmente almoço a marmita preparada por minha mãe, que a prepara com carinho para mim. No dia em que presenciei a cena que descreverei aqui, faltou-me a marmita e lá fui eu comer em paz. Conheço esse restaurante há quase dois anos e, quando é preciso, ele me serve bem.

Cheguei e, como de costume, no balcão mesmo, já pedi a comida e fui buscar uma mesinha vazia. Sentei-me e logo saquei de um livro que tenho levado sempre na bolsa, talvez você o conheça, “Mantenha seu cérebro vivo”, de dois autores, acho que americanos. Um desses livros, de poucas páginas e de muito conteúdo, com exercícios práticos de como melhorar a memória, descrevendo o funcionamento cerebral com perfeição e leveza.

A comida estava sendo preparada, eu estava lendo o livro, quando adentraram dois rapazes e também pediram comida. Um deles foi ao banheiro e, logo depois foi se juntar ao amigo, que já se havia acomodado e estava mexendo no celular. Ambos comentavam o que viam no fone, e duas meninas, entre onze e doze anos, chegaram e começaram a pedir a cada cliente que lhes pagasse o almoço. Era o meio do mês, e o dinheiro já estava contado.

Assim que uma delas se aproximou de mim, enquanto a outra continuava a se dirigir aos presentes pedindo dinheiro, ofereci duas moedas. Voltando a ler meu livro e já pensando na situação daquelas meninas, reparei nos rapazes da mesa ao lado, principalmente no que havia ido ao banheiro assim que entrou no restaurante. Ao ser abordado, como quase todos em volta, incomodou-se com a posição daquelas crianças que, àquela hora, deveriam era estar na escola e não esmolando pelas ruas como estavam.

Aquele rapaz, logo após essa abordagem, vendo que as meninas continuavam a tarefa, levantou-se e, junto do balcão, disse que pagaria dois salgados a elas. Assim fazendo, voltou à mesa em que seu amigo ainda mexia no celular. Porém, mesmo tendo se levantado e comprado dois salgados para as duas, vira e mexe, ele voltava seus olhos para junto do balcão, pois as meninas, mesmo tendo ganhado algum dinheiro e os salgados, queriam feijão e pediam à atendente o alimento.

O que me chamou a atenção foi ver que, enquanto as crianças não deixaram o restaurante, aquele moço ficou inquieto, como se algo o machucasse, e ele nada pudesse fazer. Aliás, até fez sim, visto que ajudou as duas com os salgados, mas, no fundo, parecia saber que era pouco. Dizem que pouco com Deus é muito. No caso da falta de proteção à infância comumente vista em nosso país e em vários outros, o pouco nem sempre é o bastante. Na hora do almoço daquele dia, nos lembramos disso.

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texto enviado pelo autor

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