terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 1 –


A floresta vai morrendo,
expondo seus braços nus...
E os ninhos em chama, ardendo,
sobre as cinzas dos bambus!
***
A fonte quase morrendo
nos braços da noite ingrata,
e, a lua cheia escrevendo
cordéis, em cordões de prata!
***
A velhinha, com mãos tontas,
curvada, terço na mão,
parece contar nas contas
as horas de solidão!
***
A verdade tem seus custos;
e, às vezes, é condenada,
pelas leis, que entre os injustos,
não têm certeza de nada!
***
Cada lágrima caída,
que, em silêncio tanto choras,
são reticências da vida
nas entrelinhas das horas!
***
Da infância, os sonhos mais belos,
eu guardo alguns, no meu peito:
O estalo dos teus chinelos,
ouço pai do mesmo jeito!
***
Enquanto a dor, passo a passo,
aperta o nó na garganta,
o poeta afrouxa o laço
e chora como quem canta!
***
Estuda amigo, que o estudo
evangeliza os teus lábios,
mostrando o segredo mudo
que há no silêncio dos sábios!
***
Graças a Deus, vê meu filho,
que em nosso rancho sem flor,
não temos nobreza e brilho,
mas sobra brilho no amor!
***
Meu canto, é jura secreta,
qual canto de rouxinol,
na voz de cada poeta
que canta à luz do arrebol!
***
Meus sonhos envelhecidos
nesses maltrapilhos traços,
são sinais dos tempos idos
camuflando os meus cansaços!
***
Mística Deusa romana,
foi Flora, na antiguidade,
para a própria raça humana,
sinal de fertilidade!
***
Na ausência do bem comum,
num mundo pobre de afeto,
rio, sem motivo algum,
ao ver sorrindo o meu neto!
***
Nas brumas de um mar revolto,
aos sopros dos vendavais...
Meu barco flutua solto
nas rotas da volta ao cais!
***
Numa atitude sem graça,
decido em minha euforia,
fingir que o tempo não passa
roubando a minha alegria!
***
O outono, sem dar sinais,
aos poucos, contando os passos...
Achando pouco os meus ais,
põe mais cravos nos meus braços!
***
Ouço ao longe, disfarçado,
pelos túneis da distância...
As vozes do meu passado
nos ecos de minha infância!
***
Peço-te coisas pequenas.
Vê que em meu verso indeciso,
peço uma gotinha, apenas,
da fonte do teu sorriso!
***
Pego o trinco, puxo e abro,
entro em meu quarto... E, sem medo,
só meu velho candelabro
descreve o nosso segredo!
***
Por meus pobres atos falhos,
dobrando os meus pesadelos...
O tempo em breves atalhos
pôs mais prata em meus cabelos!
***
Quando o amor se manifesta
e a luta não foi em vão,
o silêncio faz a festa
e escuta a voz da razão.
***
Quando o por do sol se espalha,
numa tarde calma e mansa,
depois que o sol se agasalha
acendo a luz da esperança!
***
São tantos nossos enredos,
que cada trama entre nós,
é porta-voz dos segredos
dos que vivem sempre a sós!
***
Se amor de mãe, não tem fim,
Deus deu-lhe esse dom fecundo!
Mãe, por amar tanto assim,
carrega as dores do mundo!
***
Sê fiel ao gesto pobre,
de quem mendiga o perdão;
perdão é o gesto mais nobre
de quem respeita outro irmão!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

Nenhum comentário: