Em meados de 1952, quando começou a primeira campanha eleitoral em Maringá, o candidato a prefeito Inocente Villanova Júnior foi buscar em São Paulo um jovem radialista para coordenar e animar os seus comícios. Era um paulista nascido em Itápolis no dia 28 de maio de 1925, Antônio Mário Manicardi, recém-aprovado num concurso para compor o elenco de radionovelas da Rádio América. A proposta do candidato era bem atraente. Manicardi aceitou, mas com o trato de que, após a campanha, voltaria para São Paulo. Até hoje não voltou.
Villanova foi eleito e fez dele o primeiro servidor da prefeitura. Nomeou-o secretário factótum (faz-de-tudo), encarregado de ajudá-lo a instalar e pôr em funcionamento o governo municipal. Seu primeiro ato foi comprar duas mesas e duas cadeiras para mobiliar o gabinete do executivo. Mas precisou pagar com dinheiro saído do bolso do prefeito, porque ainda não havia entrado nem um tostão no caixa do município.
No comando dos comícios, Manicardi ficou logo famoso pela sua voz bonita, pela facilidade de comunicação com a pioneirada e pelos belos poemas que declamava nos intervalos dos discursos. O sucesso foi tal que, além do cargo na prefeitura, ele foi também contratado pela Rádio Cultura para comandar programas sertanejos, graças aos quais ficou conhecido em toda a região usando o nome artístico de “Nhô Juca”.
Além de animar programas de auditório, acordava os ouvintes todas as manhãs com um melodioso e alvissareiro “Bom dia pra vancê”. Anos depois, passou a comandar aos domingos, na TV Cultura, o “Festival de Música Sertaneja”, e durante um bom tempo atuou também na Rádio Difusora e na Rádio Atalaia.
A grande popularidade conquistada como comunicador acabou levando-o a se candidatar à Câmara Municipal – foi vereador por três mandatos, e no último período exerceu a presidência do Legislativo. Nessa oportunidade acumulou o cargo de vice-prefeito e por trinta dias foi prefeito interino, desempenhando a função com eficiência e brilho.
Porém o artista, radialista, político de sucesso Antônio Mário Manicardi, o nosso querido e a cada dia mais admirável Nhô Juca, foi sempre, antes de tudo, um senhor poeta, romântico de nascença – o primeiro poeta da cidade.
Membro fundador da Academia de Letras de Maringá, é frequentador assíduo das reuniões da entidade, onde, com o encanto e a autoridade dos seus vigorosos 95 anos, continua compondo e declamando belíssimos poemas.
E vejam só: se em 1952 a Rádio América de São Paulo perdeu um excelente ator de radionovelas, Maringá, por sorte nossa, ganhou um dos seus mais marcantes pioneiros, um maringaísta com cadeira cativa e permanente na memória e no coração de quantos tiveram e continuam tendo a alegria de conviver com ele. Abração, Poeta.
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Crônica publicada no Jornal do Povo – 29-10-2020
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