Pelos campos a ninfa passeia,
doce Dafne, a filha do rio.
Todo o homem que a vê incendeia.
Do Parnaso a mais bela e gentil.
Logo ali belo Apolo e Cupido
os seus dons de magia comentam
O deus sol, com seu ar atrevido,
pouco faz das setinhas que adentram
nos gentis corações das pessoas
e as fazem ter ódio ou amar.
Deixam até de ser más, ficam boas,
seus desejos querendo saciar.
Diz Apolo, o deus sol, com presteza:
─ Minhas setas são fortes, flamantes.
Vem, aprende a flechar com destreza
e serás mais arqueiro que dantes.
─ Tuas setas são bem pequeninas!
Anjo deus não responde nem fere.
Não quer dar a resposta ferina.
Mira Apolo e a setinha desfere.
Dafne passa e outra flecha sente,
mas de cobre, que faz desprezar.
pois a seta dourada somente
tem poder de o amor ensejar.
Vê Apolo a ninfa que segue
tão gentil na floresta a vagar.
E ferido de amor, a persegue,
quer fazê-la de amor se prostrar.
Mas a Dafne bela o despreza.
A correr, vai pedir ao deus rio,
que afaste o intruso, se peja,
pra que dela se afaste o deus vil.
O deus rio, vendo seu desespero,
ela foi por Apolo alcançada,
a transforma num verde loureiro,
para sempre será intocada.
Suas folhas são louros dourados,
que somente aos que vencem se dá.
Chora Apolo o desprezo tão ousado.
Sua amada ela nunca será.
Esta lenda de dor e pesares
nos remete a um só pensamento:
a vanglória e o orgulho são males,
a evitar, pois só trazem tormento.
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