sábado, 19 de dezembro de 2020

Roberto Rodrigues de Menezes (Mitologia em Poema) 4 – Píramo e Tisbe


Na antiga terra feita de magia,
um guapo jovem uma donzela amou.
Por este amor ela se consumia,
Tragédia ingrata que o tempo olvidou.

Píramo quer para si a bela amada
e Tisbe o moço quer como marido;
mas os pais não permitem a caminhada
de amor eterno do par desvalido.

Furtivos seus encontros, sempre à noite,
quando resolvem, então, os dois fugir.
A sorte ingrata fere como açoite,
leva os amantes a se decidir.

Combinam encontro, não têm outra escolha,
junto a um túmulo, da amoreira ao lado.
Árvore forte, copa em brancas folhas,
que frutos cede ao viajor cansado.

O sol se foi, clareia um pouco a lua.
Já se faz tarde e Tisbe segue ansiosa.
Quer ver o amante e afinal ser sua,
o véu esconde a feição formosa.

No branco tronco ela senta, porém,
e o doce amado espera, por que tarda?
Eis que um leão por entre as sebes vem.
Tisbe se esconde no breu da ramada.

O véu lhe cai, mas dele não dá falta,
E o leão raivoso o despedaça,
na boca o sangue de uma presa incauta.
A fera some e o tempo se passa.

A moça espera que o monstro se vá.
Segura está no escuro do relvado.
Eis que o rapaz, enfim, chega ao lugar,
e toma o casto véu despedaçado.

O véu banhado em sangue, ingrata sorte
o faz julgar que uma faminta fera
a amada encontrou e lhe deu morte.
O desespero atroz sua vista cega.

─ Oh, deuses, fostes sórdidos comigo
e meu amor em vão já terminou.
A minha infinda dor não tem abrigo
e toda uma esperança se findou.

E cai o jovem em pranto convulsivo
a chorar a desgraça acontecida.
─ Se a morte te encontrou, irei contigo,
Casta noiva infeliz, minha querida.

No peito enterra a espada com firmeza,
caindo agonizante no relvado.
O sangue jorra e tinge a amoreira,
que as raízes sorvem, derramado.

A jovem Tisbe sai do esconderijo
à procura do amado, inconformada.
Logo o encontra, assim desfalecido.
Um grito invade a noite, enluarada.

O amado corpo abraça já possessa.
Ele ainda abre os olhos e lhe sorri.
Logo a seguir se volta e a vida cessa.
No reino de Plutão vai residir.

─ Que sorte horrível a minha, quero a morte,
ela diz a chorar, mas decidida.
─ Se te foste, terei a mesma sorte.
E a mesma espada atroz lhe tira a vida.

Na manhã d’outro dia o povo acorre,
encontrando abraçados os namorados.
O rubro da amoreira se confunde
com o sangue derramado no relvado.

Sepultados os dois numa só campa,
pra sempre juntos, pois tanto se amaram.
E a amoreira branca o sangue encampa.
Seus frutos doces rubros se tornaram.

Fonte:
Fénix (Carmo Vasconcelos)

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