Em 2000, no Rio de Janeiro, um grupo de reconhecidos poetas se reuniu para fundar uma academia exclusivamente dedicada ao soneto e ali foi criada a Academia Brasileira do Soneto – a ABRASSO. Uma ideia, lapidar que tinha tudo para dar certo, organizada, entre outros, pelo falecido poeta Dario de Sá, com a finalidade de preservar o soneto em sua integridade física, só admitindo como válidos os heroicos e alexandrinos. Após sua implantação, fui convidado e a ela me juntei.
Quando se fala em soneto, a referência é sempre ao heroico e ao alexandrino, mas na minha opinião, mesmo com toda rigidez de concepção, não acho que devamos chegar a tais extremos, pois acredito ser preferível incluir-lhes os estilos desde o sonetilho até o dodecassílabo (diferente do alexandrino) – obviamente, respeitando suas regras básicas quanto à métrica, rima e acentuação sem agredi-lo – do que permitir que seja mutilado entre versos brancos e pés quebrados, como sempre vemos tal heresia ser cometida. Assim acredito e defendo serem incluídos, também, os seguintes estilos, embora raramente usados :
05 sílabas – a redondilha menor, comumente chamado de sonetilho;
06 sílabas – o heroico quebrado, também sonetilho;
07 sílabas – a redondilha maior , ainda sonetilho;
08 sílabas – o sáfico de pé quebrado;
09 sílabas – o gregoriano ou jâmbico;
10 sílabas – o heróico, sáfico ou moinheira;
11 sílabas – o hendecassílabo – soneto de o arte maior
12 sílabas – o alexandrino com dois hemistíquios e
12 sílabas – o dodecassílabo, diferente na acentuação.
Os sonetilhos (termo ignorado por Geir Campos) são denominados de “arte menor” e a partir do sáfico até o dodecassílabo, são os de “arte maior”. Tratando-se de soneto, não é permitido a existência de versos acima de 12 sílabas métricas. E as acentuações a serem respeitadas, para os diversos tipos, são :
05 sílabas – nas 2ª e 5ª sílabas
06 sílabas – nas 4ª e 6ª Sílabas
07 sílabas – nas 2ª, 3ª ou 4ª.e na 7ª sílabas
08 sílabas – nas 4ª e 8ª sílabas
09 sílabas – 3ª, 6ª e 9ª sílabas
10 silabas – para o heroico, 6ª e 10ª sílabas
para o sáfico – 4ª, 8ª e 10ª sílabas
para o moinheira – 5ª e 10ª sílabas
11 sílabas – 3ª, 5ª, 8ª e 10ª.sílabas
12 sílabas – alexandrino – 6ª e 12ª sílabas, separando os hemistíquios, porém, Roger Feraudy ensinava que deveriam ser nas 3ª, 6ª, 9ª e 12ª sílabas, para melhor cadência, mas marcação não obrigatória – só questão de gosto.
12 sílabas – dodecassílabo – entre as várias combinações, a mais usada é acentuação nas 4ª, 8ª e 12ª sílabas.
Reafirmo aqui que tais variações de tipos são dentro da minha concepção particular, sem querer extrapolar as regras do soneto clássico, mas uma conclusão a que cheguei para minimizar as constantes agressões ao estilo e que acredito, com lógica, embora os mais utilizados sejam, sem sombra de dúvida, o heroico e o alexandrino. No máximo, o que alguns poetas se permitem é a mistura, num mesmo soneto, de versos heroicos e sáficos, em termos de acentuação.
HEMÍSTÍQUIOS:
são as duas partes de seis sílabas que compõem o verso alexandrino, observando-se que o verso do primeiro só poderá terminar com palavra oxítona ou paroxítona. Se oxítona, o segundo hemistíquio pode começar com vogal ou consoante. Se paroxítona, a palavra sempre terá que terminar em vogal e a seguinte iniciar com vogal para permitir a elisão.
Portanto, esse é o complexo mundo do soneto, talvez difícil para as novas gerações, mas não impossível de entendê-lo e absorvê-lo – como já constatei no trabalho de alguns jovens. Como podem deduzir na comparação com os versos livres, é um estilo totalmente diferente e especial, tanto que o poeta, pintor e trovador Noel Bergamini, assim se expressou :
“O soneto, queiram ou não, é indiscutivelmente, a base da poesia, a sua estrutura máxima, o seu alicerce ponderável e indestrutível, por ser imortal como as conquistas imperecíveis da ciência; quanto às leis imutáveis da Natureza; quanto o brilho solene dos astros e a beleza magnética das estrelas! Ninguém destrói as glórias do passado; os vultos que vivem na lembrança dos que prezam a cultura, exortam a sabedoria e sublimam a inteligência. Todos eles serviram, servem e servirão de exemplo a todas as gerações como fonte permanente de inspiração!”
E para exemplificar o que disse acima sobre o soneto de 11 sílabas, transcrevo um do poeta Roger Feraudy (1923/2006), escrito em ´95, para mostrar sua sonoridade nos TEMPOS MODERNOS ( ao genial Charles Chaplin ) :
No meu desalento procuro entender,
se passo na vida, ou a vida é que passa !
Eu devo estar velho, ou cansei de viver,
e agora não sei realmente o que faça !
E vejo confuso o probo hoje ser
aquele que honesto serviu de chalaça,
por ser virtuoso cumprir seu dever.
Só vence quem usa da fraude, a trapaça !
Na música o som meus ouvidos tortura,
no verso, na prosa e até na pintura,
se exalta o vulgar com incenso e louvor.
Nos tempos modernos – é regra geral,
porque sem critério, no mundo atual,
mudou-se o conceito, inverteu-se o valor !
se passo na vida, ou a vida é que passa !
Eu devo estar velho, ou cansei de viver,
e agora não sei realmente o que faça !
E vejo confuso o probo hoje ser
aquele que honesto serviu de chalaça,
por ser virtuoso cumprir seu dever.
Só vence quem usa da fraude, a trapaça !
Na música o som meus ouvidos tortura,
no verso, na prosa e até na pintura,
se exalta o vulgar com incenso e louvor.
Nos tempos modernos – é regra geral,
porque sem critério, no mundo atual,
mudou-se o conceito, inverteu-se o valor !
E Atos Fernandes, lá da cidade de Itaperuna/RJ, falecido em ´79 nos mostrou a súplica dos PEDINTES :
O pobre pede pão. O nobre pede o trono.
O santo pede o altar, o crente pede a missa,
e quem das leis sociais sofre amargo abandono
ergue as mãos para o Céu, pedindo por justiça.
Quem ama pede amor. O insone pede o sono.
O mártir pede a cruz, e pede o herói a liça.
Pede o inverno o verão; a primavera o outono,
e o sábio pede a luz da verdade castiça!
Quem luta pede a paz. O enfermo pede a cura.
O verme pede a terra e a águia pede a altura,
e quem sofre a opressão pede a mão que o redima.
E o Poeta, também, seguindo a mesma norma,
é um mendigo a pedir a pureza da Forma,
a beleza da Ideia e a riqueza da Rima!
O santo pede o altar, o crente pede a missa,
e quem das leis sociais sofre amargo abandono
ergue as mãos para o Céu, pedindo por justiça.
Quem ama pede amor. O insone pede o sono.
O mártir pede a cruz, e pede o herói a liça.
Pede o inverno o verão; a primavera o outono,
e o sábio pede a luz da verdade castiça!
Quem luta pede a paz. O enfermo pede a cura.
O verme pede a terra e a águia pede a altura,
e quem sofre a opressão pede a mão que o redima.
E o Poeta, também, seguindo a mesma norma,
é um mendigo a pedir a pureza da Forma,
a beleza da Ideia e a riqueza da Rima!
________________________
continua…
Fonte:
Texto de José Roberto Gullino disponível na Casa Raul de Leoni (http://rauldeleoni.com.br/soneto/)
continua…
Fonte:
Texto de José Roberto Gullino disponível na Casa Raul de Leoni (http://rauldeleoni.com.br/soneto/)
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