terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Silmar Böhrer (Croniquinha) 12


O Capitão Rodrigo Cambará (O TEMPO E O VENTO, Érico Veríssimo), um dos personagens mais marcantes da nossa literatura, certo dia aparece em Santa Fé cavalgando lentamente, e olhando de soslaio para todo lado, chega à frente do bolicho, apeia do cavalo e entra:

- Buenas e me espalho, nos pequenos dou de prancha, nos grandes dou de talho.

- Pois dê ! - respondeu Nicolau, o dono da bodega. O Capitão olhou em volta, sorriu para os presentes e disse:

- Calma, companheiro ! Estou cansado, venho de muitas lutas, peleias e pendengas. As guerras não dão lucro. Só dão prejuízo. Quando não a morte.


Se até nos romances as guerras são mal ditas (malditas), não seria nada diferente na vida real, diria o romancista contador de histórias.

No meu ser não há um fiozinho de esperança e otimismo a pensar que o ser humano mude. Por isso sigo a indagar. Será que os homens, perseguidores da paz fazendo a guerra, censurando-se uns aos outros, incitando-se mutuamente,  chegarão um dia a algum acordo pacífico que não seja apenas o preenchimento de um protocolo, a cobertura de mais um pobre labéu, a simbólica assinatura numa folha de papel ?

Será que os homens que digladiam com esta ganância desenfreada, com esta fartura de egoísmo, com esta falta de escrúpulos chegarão algum dia, ao final da batalha sem terem depreciado as virtudes, compungido seus dias, desordenado a vida neste planeta ?

Questões, dilemas, enigmas que permanecerão indecifráveis por muito tempo.

O planeta - nossa morada - seguirá humilhado e devassado pelo tempo a fora, como tem sido até hoje.

Pobre planetinha, paraíso azul !

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Nenhum comentário: