sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Francisco Pessoa (Décimas do Pessoa) II


ADELINA MESQUITA


Ser avó é ser mãe indo e voltando
É chorar duas vezes de alegria
Ser chamada Maria de Maria
Não querer trocar fralda e já trocando
Caducar sem dizer: - tô caducando
Abafar qualquer choro com carícia
Afirmar "dormir pouco, uma delícia"
É mentira de vó, é muito apego
Eu queria ver uma, sem chamego,
Se tivesse uma neta qual ALÍCIA!
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AMOR PROIBIDO

Meu sentimento vaga na poesia,
Meu cantar tomou forma do meu pranto
Pois chorar se por ti, fez-se acalanto
Saber tudo do nada que eu sabia
E sentir que sentindo não sentia
O prazer, se é prazer tudo que sinto
E o amar, se é amor, amo e não minto
Um sei lá!... Posto quando a ti me achego
Na impossibilidade de um chamego
Sonho louco, num louco labirinto...

"Sentindo que sentir eu não sentia
O prazer qual prazer não me aprazia".
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AOS POETAS DE CAICÓ

Eu queria escrever meu sentimento
Mas não sai, a não ser este prospecto
Ou sou eu um carente de intelecto
Em mostrar o meu agradecimento
Pode ser até falta de talento
Pra exprimir o que sinto por vocês
Aturando o Pessoa uma outra vez
Nessa nossa querida Caicó
A rainha de todo Seridó
Quem me dera voltar no outro mês!!!
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INCLUSÃO SOCIAL

Desde os primos vagidos deste mundo
Quando o sopro divino se fez luz,
O saber é a estrada que conduz.
Ao píncaro e ao abismo mais profundo
Caminho, onde caminho e me confundo
Pela vil dualidade do caminho,
Ora cova tristonha, ora ninho
És palco vivo de uma nova vida
O saber faz da rua uma avenida
Porém, pode calçá-la com espinho.
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NO MEU LAR SOU EU QUEM MANDA
QUANDO A PATROA VIAJA!


Sou chefe até do meu chefe
Sou o grito que calou
Se você pensa quem sou
Me beije e eu lhe dou tabefe.
No carteado sou blefe
Dentre as cobras sou a naja,
Quer me ver doido? Reaja...
Mais brabo que urso panda,
No meu lar sou eu quem manda
Quando a patroa viaja!
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PARODIANDO OTACÍLIO BATISTA

o Evangelho nos guia nos conforta
Nos momentos da vida tão cruéis
Que nos tornam pequenos, infiéis,
Sendo a crença o que menos nos importa.
Quando Cristo bateu à minha porta
Convidei-O a entrar: — Faça o favor,
Abençoe-me pois sou um pecador...
Fez-se ouvir sua voz doce, maviosa:
"A mensagem bonita e carinhosa
Faz o homem temer sem sentir dor!"
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QUEM TANTO CANTOU SAUDADE
DEIXOU SAUDADE NA GENTE


Tristeza em toda cidade
Choram nobres e plebeus
Pois se foi sem dar adeus
Quem tanto cantou saudade
Em busca da eternidade
Resolveu partir na frente
Foi seu último repente
Sua única derrota
Grande mestre Chico Mota
Deixou saudade na gente.

Fonte:
Francisco José Pessoa de Andrade Reis. Isso é coisa do Pessoa: em prosa e verso. Fortaleza/CE: Íris, 2013.
Livro enviado pelo autor.

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