— BOM DIA!
— Bom dia. Em que posso ajudar?
— O senhor ainda compra objetos antigos?
— Sim. Este é o meu ramo.
— Tenho uma mesa com quatro cadeiras.
— Teria como dar uma olhada? Trouxe fotos ou filmou os objetos?
— Não, senhor. Fiz melhor. Trouxe no meu carro. Quer dar uma olhada?
— Só se for agora. Onde está o seu automóvel?
— Aqui ao lado.
O dono do topa-tudo levantou de sua mesa cheia de quinquilharias e acompanhou o futuro cliente. Cresceu, claro, os olhos, quando viu que a mercadoria estava em boas condições:
— Quanto quer?
— Diga o senhor.
— Não posso ‘botar’ preço nas bugigangas que meus clientes aparecem por aqui querendo negociar.
— Pensei em duzentos reais.
— Dou cem reais.
— Não dá para melhorar o preço?
— Amigo! Cento e quarenta e cinco reais e não se fala mais no assunto.
— Nem eu, nem o senhor: Cento e cinquenta reais.
— Fechado.
— É toda sua.
***
— Pois não? Posso ajudar?
— Estou vendendo um rádio de pilha e a bateria.
— Se eu puder ver o aparelho...
O cara colocou uma sacola de supermercado sobre a mesa, a mesma, aliás, a única, repleta de pequenas antiguidades:
— Quanto quer?
— Cinquenta reais.
— Vinte e cinco.
— Fechado. O radinho é seu.
***
Entrou um jovem bem apessoado, de terno e gravata:
— Olá!
— Bom dia. Posso ajudar?
— Acho que sim. Ia passando quando vi no seu anúncio, ali fora, dizendo que o senhor compra qualquer coisa.
— Verdade. O que o amigo tem para negociarmos?
— Um troço bem usado. E bem velho também. Do tempo que nossas avós andavam de patinete de uma roda só.
— Ok. Diga ai o que é.
— Tenho certeza que o senhor não tem aqui. Pelo menos, na rápida olhada que dei...
— Tá bom. Diga o que é. E o preço. Quem sabe não fechamos negócio?
— Caso o senhor não queira comprar, poderá trocar comigo numa televisão, estante ou aquele guarda-roupas ali, ou a geladeira. Enfim... Faço qualquer coisa...
— Tudo bem, meu amigo. Só preciso saber o que é que o senhor tem para barganharmos e o valor pretendido.
— A peça tem mais de noventa anos. Apesar da idade, faz tudo: lava, passa, cozinha, joga conversa fora, late, mia, grita...
— Não estou conseguindo acompanhar o seu raciocínio.
— Acho que fui bem claro...
— Pelo que entendi, o senhor tem um gato ou um cachorro... Já que o prezado deixou claro que mia e late!
— Acertou. É um animal. Eu acrescentaria mais. Um animal peçonhento.
— Meu Deus! Um porco? Um leão? Uma cobra? Um elefante, talvez?
— Quase...
O comerciante coçou a cabeça:
— Apesar desses bichos que mencionei não latirem, nem miarem, agora fiquei encucado. Ele lava, passa e etc... Seja mais claro, por favor... Sou meio lerdo, às vezes, no raciocínio...
— Dá uma olhada, por gentileza.
O sujeito entregou um envelope ao dono do comércio. Ao abrir, se deparou com várias fotos de uma senhora em idade bastante avançada:
— Amigo, isto é algum tipo de brincadeira? Não negocio pessoas. Ficou louco?
— Eu sei que não negocia seres humanos, aliás, isso ai nem pode ser considerado um... Mas se abrisse uma exceção, quanto me daria?
— Prezado, tenho mais o que fazer. Passe bem. Bom dia.
Todavia, a criatura insistiu:
— Quanto?
O lojista achou melhor entrar na piração da criatura e ver até onde o chato de galochas chegaria:
— Sua mãe?
— Não.
— Avó?
— Não.
— Tia, irmã, sobrinha... Algum vizinho criador de caso?
— Minha sogra. Se eu lhe trouxer essa desgraça aqui, fechamos na cama de casal com aqueles dois criados-mudos que estão ali naquele canto?
O mercador se enfureceu. Saiu literalmente do sério. Para não partir para as vias de fato, precisou acionar a polícia. Somente desta forma conseguiu tirar o sujeito cara de pau de dentro de seu estabelecimento.
Fonte:
texto enviado pelo autor.
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