sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro de Alcântara


Nas docas, as velhas fragatas e as canoas foram substituídas por veleiros e iates e os antigos armazéns do peixe recebem, agora, a visita dos notívagos da Capital. Mas, pelas vielas mais interiores, a Alcântara castiça – do Tejo e do Fado – continua a tentar resistir.

UMA PONTE DE CULTURAS

Uma “ponte” tinha de marcar o destino deste populoso bairro lisboeta. Na verdade, o seu nome vem do árabe e “Alcântara” significa ponte. Essa tal ponte fazia a ligação entre duas margens de uma ribeira que corria sob o que hoje é a Avenida de Ceuta, desaguando no Tejo.

Curiosamente, nos nossos dias, Alcântara é marcada por uma outra ponte: a ponte 25 de Abril. Alcântara foi local da batalha perdida por D. António Prior do Crato contra as tropas castelhanas, em 1580. E foi, a partir do início da expansão ultramarina, lugar procurado pelos monarcas e fidalgos. Primeiro, como ponto de passagem para Belém. Mais tarde, porque acharam ali locais privilegiados para casas de campo e centro de caçadas.

Foram, então, surgindo os principais edifícios do sítio que viria a ser o bairro popular e operário que conhecemos. Foi o caso do Palácio Real (no Calvário), da Igreja das Flamengas, dos Conventos do Calvário e do Livramento, da belíssima Capela de Santo Amaro, assim como o Palácio das Necessidades. Alcântara, cujas águas cristalinas terão atraído os povoadores, estava repleta de hortas, azenhas, e sulcada de vinhedos.

A Revolução Industrial trouxe-lhe a implantação de fábricas e de muitas habitações para os respectivos trabalhadores, transformando Alcântara num bairro operário e marinheiro. Ali se instalou uma das primeiras escolas industriais do país, a “Escola Marquês de Pombal”. Também ali, a rainha D. Amélia criou um dispensário, a partir do qual se iniciou a campanha contra a tuberculose em Portugal.

Alcântara participa das marchas desde 1932, com o patrocínio de SFAE – Sociedade Filarmónica Alunos Esperança, sediada neste bairro, na Rua de Alcântara. Devem-se à SFAE alguns dos grandes nomes do teatro amador, bem como de artistas que representam a coletividade na Grande Noite do Fado, organizada pela Casa da Imprensa. As suas atividades desportivas, em várias modalidades, constituem uma ocupação dos tempos livres dos jovens residentes no bairro, destacando-se o tênis de mesa, tendo a SFAE organizado o 1º torneio de Lisboa.
 
MARCHA DE ALCÂNTARA
“Alcânt’ra é diferente”

Música de Constantino Menino
Letra de Martinho da Silva

“Que linda Alcântara
Vem hoje a desfilar
Bonitas vão
As suas carvoeiras
Lisboa, Lisboa
Alcânt’ra sabe a mar
É moça gaiata
Nos gestos e maneiras.

Seus olhos são fogo
Que aquece o coração
calor que’spalha
Pelas ruas da cidade
Certinho compasso
Tem a sua canção
Alcânt’ra que canta
Lisboa sem idade.
(Refrão)

Olhai
Olhai p’rás carvoeiras
Alfacinhas brejeiras
Gaivotas a voar
Cantai
Cantai com o coração
Os tempos que lá vão
D’Alcânt’ra à beira mar.

A noite é de festa
Meu bairro é Alcânt’ra
Alcânt’ra é Lisboa
Alegre e sorridente
Voando, voando
A marcha que encanta
É mais popular
Alcânt’ra é diferente.

Na garganta o cantar
Do arrais pelo convés
Cantigas de amor
São trovas feitas ao Tejo
Bela carvoeira
traz ondas das marés
a alma se acalma
Lisboa ao dar-lhe um beijo”.
(Refrão)
 
Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

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