sábado, 26 de novembro de 2022

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro de Campolide


Outrora, o bairro foi local de vinhedos e de escaramuças. Um campo de lides à beira de Lisboa. Com o correr de tempo, as lembranças foram-se diluindo, até ficarem apenas os monumentos, como o majestoso "Aqueduto da Águas Livres” “Campos de lides” ou “Campolit”, significa terra de cultivo ou espaço de desavenças com os invasores.

Campolide já foi uma freguesia bem maior do que é hoje. Abrangia as zonas de Campo de Ourique, Estrela, Lapa, São Bento e Santos, chegando mesmo até Alcântara. Toda esta área era habitada por construtores modestos.

A Calçada dos Mestres presta homenagem aos que ergueram o túnel monumental que aproxima o Rossio de Campolide, ou o aqueduto que D. João V mandou criar para abastecer Lisboa de água. A urbanização foi posterior à Primeira Guerra Mundial. Antes, o espaço estava reservado a quintas, pomares, olivais e vinhedos.

Segundo testemunhos escritos do período afonsino, já nessa altura, o vinho de Campolide deliciava as pessoas da cidade. Escrituras de 1340 comprovam que uma parte das vinhas de Campolide pertencia a D. Fernando l. Esta cultura chega ao século XVI. Mas não era só vinho que ia para Lisboa. A fruta e o azeite também eram produzidos naquelas terras. Campolide é reflexo de um plano de urbanização que deu lugar a construções de pequenos proprietários, nos terrenos do Conde do Paço do Lumiar. Para além do Aqueduto das Águas Livres (*) e do Túnel do Rossio (que liga o comboio entre o Rossio e Campolide), o bairro sustenta outras vias de acesso à cidade como o Viaduto Duarte Pacheco, administrador da povoação nas décadas de 30 a 40. Duarte Pacheco também dá nome a uma das ruas de Lisboa.

(*) AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES: Quando, em 1748, a água correu pela primeira vez no Aqueduto, Lisboa festejou o acontecimento. Fontanários e chafarizes depressa se tornaram centros de abastecimento, de convívio e, não raro, de violentas discussões. Era um verdadeiro rachar de bilhas e de cabeças! Enquanto a água corria fresca, “fervia” pancada em redor das bicas. Hoje, duzentos e cinquenta e dois anos depois, fontanários e chafarizes estão bem mais calmos ...

Dos monumentos e edifícios, destacam-se, igualmente, a Ermida de Nosso Senhor das Almas, o Palacete Roque Gameiro, o Relógio de Sol da Rua de Campolide e o Batalhão de Caçadores 5. Recentemente, Campolide foi enriquecido pelo Palácio da Justiça. A antiga terra de lides é hoje um modesto, mas audaz mirante de onde se avista Lisboa. Ao longo dos tempos, a freguesia sofreu várias transformações físicas subsequentes à construção de novos bairros.

O caminho pedonal (restrito a pedestres) do Alto da Serafina até Campolide, passando por cima dos Arcos de Alcântara, era o caminho que os saloios (aldeões) de Belas e de Queluz percorriam quando se dirigiam à capital. Chegados ao Arco Grande, estamos a 65 metros acima do solo e pisando pedras que, no século XIX, foram testemunhas silenciosas dos assaltos de Diogo Alves...

Ninguém melhor do que a rainha D. Carlota Joaquina, soube aproveitar o ambiente refrescante do Aqueduto das Águas Livres em Campolide. Quando os calores de verão apertavam, a rainha dirigia-se até à Mãe d’Água Nova e por ali passava horas que, de refrescantes, na verdadeira acepção da palavra, pouco tinham... Ao que diziam as más línguas da época, a rainha ia refrescar-se não propriamente dos calores de Verão mas de “calores” de outra natureza ... Só assim se compreende, dizem ainda as más línguas, que os filhos de Carlota Joaquina fossem uma bela “estampa” (quer ela quer o marido, D. João Vl, fossem feíssímos). Pudera! Com a rainha a mudar de cocheiro (sempre escolhidos a dedo) de dois em dois anos... Se D. João Vl deixava muito a desejar no que toca a saciar as sedes da rainha, o mesmo não acontecia com o seu antecessor, D. João V. O monarca não só saciava a sede da esposa como de outras damas. Até em matéria de amores era magnânimo! Quando lhe chamaram a atenção para as suas aventuras amorosas, que não eram do particular agrado do prior da corte, o monarca encarregou o cozinheiro de servir somente um prato de galinha ao eclesiástico. Farto de só comer galinha às refeições, o prior questionou o monarca sobre tão estranha ementa. Sutil, D. João V, o rei magnânimo, ter-lhe-ia dito: “Nem sempre galinha nem sempre rainha ...”. Se as pedras daquela Mãe d’ Água falassem...

O Sport Lisboa e Campolide teria sido fundado em 1925, numa taberna do bairro. Até 1939, ainda sem sede própria, a coletividade preocupou-se, principalmente, em desenvolver atividades no campo desportivo e recreativo. Organizadora da Marcha, o SLC tem outras práticas culturais e desportivas, como o futebol de salão, a ginástica, o teatro e espetáculos musicais, etc.
 

MARCHA DE CAMPOLIDE
(Presente e Futuro)

Segue em frente Campolide
É o que hoje te peço.
No teu qu’rer é que reside
Toda a força do progresso ...

Muita coisa já tens feito
Muito mais tens p’ra dar,
O amor só é perfeito
Se se pode partilhar
(Refrão)

Não fiques parado
Sem nada fazer,
Trabalho é suado
Parar é morrer ...

No fim do milênio
Estuda e progride,
Aguça o teu gênio
Por ti, Campolide !
(Bis)

Bem ousada tens a gare
Imponente e futurista,
Mas é sempre no ousar
Que o futuro se conquista ...

Se não fosse a ousadia
Que é gênio, um tributo,
Não terias a alegria
De ter’s hoje o Aqueduto !...

Emprega-te a fundo
Trabalha sem peias,
Conquista o teu mundo
Sem falsas ideias ...

Do mau ambiente
Transpõe esse muro
De pé, marcha em frente !
Conquista o FUTURO ! …

(Final)

No fim do milênio
Estuda e progride,
Aguça o teu gênio
Por ti, Campolide !...

Do mau ambiente
Transpõe esse muro,
De pé, marcha em frente!
Conquista o Futuro !

 
Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

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