A existência com leveza,
quando nos faz mais velhinhos,
comparo a uma vela acesa
que vai queimando aos pouquinhos!
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A infância o tempo desfaz!
Mas em meus sorrisos francos,
mantenho o riso da paz,
na paz dos cabelos brancos!
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Antes que o Sol se descubra,
rasgando o seu branco véu...
Deixa a alvorada mais rubra
e o rubro do amor no céu!
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Ecos, sussurros, gemidos,
mãos estendidas, sem nome...
São sinais dos excluídos
mastigando o pão da fome!
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É Deus que, quando entardece,
em silêncio e sem alarde,
põe reticências na prece
das vozes do fim da tarde!
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Enquanto o fogo, na dança,
mata da planta as raízes,
a gente planta esperança
nas cinzas das cicatrizes!
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Entre o poeta e os passarinhos,
há semelhanças demais...
Quanto mais longe dos ninhos
mais tristes cantam seus ais!
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Eu só conquistei na vida,
em meio a tanto cansaço,
essa fronte embranquecida
por tudo, que fiz e faço!
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Famintas e de almas nuas,
na mendicância e sem teto,
de crianças, enchem-se as ruas
entre os monstros de concreto!
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Mãos trêmulas, passo incerto,
que exemplo, o do bom velhinho;
e há gente com o passo certo
que nunca acerta o caminho!
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Meu destino é feito um rio,
que entre escarpas e rochedos,
revela seu desafio
mas não conta os seus segredos!
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Na estação de trem antiga,
há o fantasma de um vagão
que à noite, assusta e castiga
quem volta à velha estação!
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Na igrejinha abandonada,
toda tarde um velho sino
tange em cada badalada
o planger do seu destino!
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Não me esqueço!... E, ao descrevê-la,
praça de minha ilusão!...
Seu chão forrado de estrela
era a esteira do meu chão!
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Na vida, tudo se alcança.
Se é verdade ou se é mentira...
Quanto mais a idade avança,
mais o poeta se inspira!
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No meu baú de lembranças,
revendo antigos folguedos,
encontrei muitas crianças
em meio aos velhos brinquedos!!!
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Numa luta merencória
entre um crente e um incréu...
Um leva o troféu da glória
e o outro, a cruz por troféu!
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O amor, é qual detetive
que, quando a intriga descobre,
troca o castelo onde vive
pelo barraco mais pobre!
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O mar, ao romper da aurora,
aos meus olhos, se assemelha,
a um mar que em silêncio chora
lágrimas de cor vermelha!
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O olhar mais triste e profundo,
vi no olhar de uma criança;
nossa esperança do mundo,
num mundo sem esperança!
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O poeta em seu caminhar,
é qual profeta andarilho,
que vê nos passos, no andar,
os passos do andar do filho!
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Peço que guardem meus versos
longe da traça e cupim,
que há muitos sonhos imersos
nesses pedaços de mim!
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Se acaso, o mar, ante a bruma,
perde a ternura ao se expor...
Sacode a saia de espuma
vestindo a praia de amor!
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Quando a noite de alma nua,
desperta e põe-se a vogar...
No mar, navega uma lua,
no céu, há outra a vagar!
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Se alguém, na aridez do amor,
fizer o bem que é preciso,
vai sim, brotar uma flor,
na fonte seca do riso!
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Se a mágoa te embaça a vista,
ante alguém que te magoa,
não há mágoa que resista
na vida de quem perdoa!
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Se a ti, meu pai, me assemelho,
eis o meu maior desgosto:
Não sentir mais teu conselho
nem o suor do teu rosto!
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Tapera!... Por teus lamentos,
teu pranto!... E, neste abandono...
Até no sopro dos ventos,
ouve-se a voz do teu dono!
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Tempo ingrato, ó quem me dera
tornar mais lentos teus passos,
deixando que a primavera
fique mais tempo em meus braços!
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Três letras, palavra breve,
no mundo de qualquer um;
sem as três, ninguém escreve
mãe - de outro jeito nenhum!
Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.
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