sábado, 5 de novembro de 2022

Silmar Böhrer (Croniquinha) 66


Tarde plena no trecho, descendo a conversar com o riacho viandante, companheiro de águas e pensares, esgueirando na mata. Cronista dos quase nadas com olhares atentos, observando, auscultando pássaros e animais que fazem daqui o seu habitat - curucacas, saracuras, nambus e quero-queros - a bebericar algum sustento no banhadinho.

Somos dois, dois somos, eu e o rio  juntos à mata ciliar, um a correr, outro a divagar. Este a conduzir a folha que já foi verde um dia, e agora navega sua crônica de vida entre pedras e redemoinhos. O outro, a observar os torvelinhos que agitam o pocinho, onde as águas não só descem, sobem também, pondo a navegar em círculos, em retorno, os pequenos arbustos e as folhas que se vão na planície.

Seria esse o retrato dos verdissecos, galhinhos e pequenas folhas que fazem a viagem final rio a baixo no rumo do mar? Crônica de já, não vidas, em pura mansidão, pelos meandros do insólito caminho que leva ao fim?

A magia da vida caminha, rasteja, navega pelas veredas do insondável, como bem nos mostram os mestres, não é mesmo Braguinha ? E quem escreveria com maestria a crônica dos sertões, senão Guimarães Rosa ? Mundinhos dentro deste vasto mundo, mundo vasto cantado pelo outro mineirinho, Drummond.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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