CARROÇÃO DE BOIS
{antiga transportadora de toras)
Meu serviçal, meu carroção vetusto
Puxado a bois, de cabeçalho ereto,
E meu parceiro que dá renda e custo
Para a família de labor completo.
Passou o tempo... meu trabalho injusto
Traçou o dano de perverso aspecto.
E a natureza me pregou um susto
Pelo confronto sem nenhum afeto.
Meu pesadelo; pinheiral caído
Que me atormenta o coração doído
Servindo ao néscio, sem ganhar dinheiro.
Desatrelei os animais da canga
E, arrependido, debelei a zanga
E de castigo fui plantar pinheiro.
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NOVAS VIRTUDES
Vou procurar na madrugada estranha
Novos enfeites para a minha musa.
Sempre distante de qualquer barganha
Ante oferenda de formal recusa.
O gesto rude e vil, realmente, assanha
E invade espaço sem pedir escusa.
Porém a glória impede a audaz façanha
Que o gênio expulsa como nódoa intrusa,
E o dever diz; olhai o irmão carente
Onde não chega o amor e o abraço ausente
Do repudiado e visionário ateu,
Atiça a brasa do fogão antigo,
Enche a panela de feijão amigo
Sem precisar dizer porque acendeu.
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PLANTA! PLANTA!
Reclama a vida por um ar mais puro,
E a natureza a repetir: Urgente!
Carece o humano, do pensar maduro,
Tomar a terra a natural semente.
Olho à distância e já não mais aturo
Este negrume pela mata ausente,
A derrubada ao florestal maduro
Devasta o mundo que se toma quente.
Tenha piedade do pequeno arbusto...
Quanto à floresta não sejais injusto,
Pois quem a cuida o nosso Mestre ajuda.
Estenda a mão ao sofredor que implora,
E a seu irmão que arrependido chora,
Rogando ao Céu que a humanidade acuda.
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SOMBRA DO AMOR
Sofrida espera no saguão deserto,
Mirando a porta de chegada sua;
Não sei do horário, nem o dia certo,
Por isto ansioso meu pensar flutua.
Na despedida não agi esperto,
Pois meu sentido devagar atua,
Assim estou com todo espaço aberto
Sempre vigiando seu chegar da rua.
Não queira nunca se ausentar de mim
Não deixe mais o meu amor assim
Possuído e triste deste mal do anseio.
Agora sei como tornar-me vivo:
Longe outra vez vou me tornar ativo,
Serei à sombra deste seu passeio.
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TELEFONE INGRATO
Quase destruo o telefone mudo,
Velho caduco que jamais me fala.
Ele bem sabe - de aflição acudo -
Ouvir a voz que o coração regala.
Esperto não usa o tom agudo,
Quando me vê transfere toda escala.
O baixo tom é o seu tenaz escudo,
Mais a esperteza da vilã cabala.
Como viver neste cruel negrume
Quando demonstra sobre mim ciúme,
De forma vil e que jamais me apraza.
Um jeito existe e bem assim não brigo:
Eu vou trazê-la a residir comigo
E colocá-lo no porão de casa.
Fonte:
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.
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