sábado, 12 de novembro de 2022

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares de Lisboa) Bairro Alto


Ruas antigas e sinuosas onde se cruzam velhos moradores e as gerações mais novas, frequentadoras da noite. Os bares modernos, as lojas de roupa e de artesanato foram substituindo as “boites” e os “dancings”. E, apesar do ar tradicional, o bairro ganhou nova vida.

Em 1515, a Companhia de Jesus construiu uma ermida dedicada a São Roque, intercessor contra a peste. Era este o nome inicial do Bairro Alto. Nessas terras, as casas eram poucas ou nenhuma. O terreno servia, essencialmente, para a agricultura. Mas, em 1528, nasceu uma urbanização diferente das existentes até então na cidade. Vila Nova de Andrade era composta por ruas e quarteirões com traçado retilíneo. O nome deve-se ao fato de ter sido erguida na Herdade da Cotovia. O espaço dava lugar a hortas e vinhedos pertencentes a Nicolau de Andrade. Só dois séculos e meio mais tarde é que este tipo de urbanização começou a aparecer na baixa.

Nessa altura, são edificadas duas capelas: a das Chagas e a do Loreto. A primeira, foi construída, sobretudo, para os navegadores; a segunda para os italianos que visitavam ou moravam em Lisboa. Com o terremoto de 1755, parte do bairro ficou destruído. A reconstrução foi feita de acordo com a arquitetura Pombalina e obedeceu a um esquema geométrico e retilíneo.

 Devido a esta intensa modernização, o local cativou a nobreza e foram construídas residências de luxo e palácios. Em 1768, ergueu-se, no Bairro Alto, o edifício da Santa Casa da Misericórdia. A primeira Escola de Artes Marítimas e o Conservatório Nacional, a atual Escola Superior de Arte, Teatro e Cinema, também nasceram nesta zona.

Atualmente, o Bairro Alto divide-se em três freguesias: a de Santa Catarina, a das Mercês e a da Encarnação. Esta última, antiga freguesia do Loreto, viu nascer a maioria dos jornais lisboetas. Aliás, em quase todas as ruas do Bairro Alto existia um órgão de imprensa. A influência foi tal que alterou a própria toponímia da cidade. A Rua dos Calafates, por exemplo, passou a chamar-se Rua do Diário de Notícias e a Rua Paiva de Andrade era a antiga Rua da Luta.

Aqui surgiram e persistiram alguns jornais, como o “Diário de Notícias”, o “Diário de Lisboa”, o “Diário Ilustrado” e o “Jornal da Tarde”. O Lisboa Clube Rio de Janeiro resultou da fusão de outras duas coletividades existentes no bairro, em 1938. O Lisboa Clube focava as suas atividades principais nos campos cultural e recreativo.

O União Clube Rio de Janeiro estava mais vocacionado para a vertente desportiva, principalmente, para o ciclismo. Talvez por isso, a primeira atividade a ser fortemente impulsionada pelo clube foi, precisamente, a desportiva, mas dando maior destaque à luta, ao boxe, ao tênis de mesa, ao basquetebol, à ginástica e ao futebol de cinco. Na luta, a coletividade já tem cerca de quarenta atletas praticantes que competem a nível internacional e conseguem, quase sempre, excelentes resultados. Porém, o ciclismo continua a ser “a menina bonita dos olhos” da coletividade. Sem esquecer a atenção que depositam nas marchas populares do bairro, e no arraial, que são de âmbito cultural.

MARCHA DO BAIRRO ALTO
(Olhem bem o Bairro Alto)


“O Bairro Alto
Vistoso e com “Gajé”*
Mora tão alto
para mostrar quem é.

Bairro de artistas
Que colhe tanto gênio
Quer dar nas vistas
Ao chegar ao milênio!

E com vaidade
Dizer que é alguém
Nesta cidade
A quem quer tanto bem.

Bairrismo eterno
Vive em seu coração
Está mais moderno
Mas honra a tradição.

(Refrão)

Olhem bem o Bairro Alto
Cantando
Bailando
Com garbo e alegria
Olhem bem o bairro Alto
Que a “Estranja”
É canja !
Visita noite e dia.

Olhem bem o Bairro Alto
Artista
Fadista
Que mostra ter bom gosto.
Ó Lisboa que és amiga
Aceita esta cantiga
E vem cantar conosco.

No Bairro Alto
Com tascas nas vielas
Ouve-se o fado
Cantado à luz de velas.

E a juventude
Em noites de lazer
Vem amiúde
Ciosa de aprender.

No Bairro Alto
Altar desta cidade
Há sempre um beco
Onde mora a saudade.

Gente modesta
Mas sempre aberta ao gênio
Já está em festa
Sonhando com o milênio.”
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* Gajé = elegância, graça
 
Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

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