terça-feira, 1 de novembro de 2022

Luiz Damo (Trovas do Sul) XXXV


A água que dá vida aos rios
e ao mar, forma de oceano,
pode causar arrepios
no indefeso ser humano.
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A idade não vem sozinha,
sempre vem acompanhada,
bem vestida, tal rainha,
mas na essência, esfarrapada.
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As plantações não garantem
colheita farta e serena,
a menos que todos plantem
sementes de vida plena.
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A vida, Deus o homem veste
e uma advertência lhe faz:
– Da terra, um dia vieste
e à terra retornarás...
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Do teu papel, não te abstenha
de exercê-lo com orgulho,
embora o que desempenhas
só tenha papel de embrulho.
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Entre mistérios e enigmas
o homem se encontra repleto
e por não ter paradigmas,
segue um eterno incompleto.
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Fruto de longa amizade,
a amarga dor incontida,
resultado da saudade
que fica após a partida.
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Mata à dentro ou campo a fora,
mata e preda, o caçador,
por que não deixar a flora
com fauna e sem predador?
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Na terra, tal passarinho,
o homem voa em liberdade,
seu fim: construir um ninho,
nos ramos da eternidade.
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Ninguém nasceu para a morte,
mas essa o mundo lhe deu
vida, sempre um grito forte,
que nunca, o fraco escondeu.
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Ninguém parta sem destino,
ou temer nunca chegar,
seja mais que um paladino,
alguém sempre a labutar.
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No contexto da razão,
toda emoção se rebela,
por saber que a decisão
poderá não ser a dela.
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No inverno, pela invernada,
sob um tenebroso frio,
cobre a relva, a alva geada
e o bafo vindo do rio.
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Nunca menospreze as flores,
nem delas tenha ciúme,
Deus ao conceder-lhe as cores
também lhes cede o perfume.
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O homem cria muitas lendas
revestidas da verdade,
que não passam de legendas,
sem qualquer profundidade.
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Ouvindo a chuva incessante
caindo sobre o telhado,
lembra o campo verdejante
sendo por ela molhado.
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Pomos muralhas nas terras
temendo o bicho feroz,
não sei se os bichos são feras
ou, se as feras somos nós.
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Quando na comunidade
partilhar se torna um fato,
com certeza, à humanidade,
será dado outro formato.
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Quem teu gesto interpretar
que o faça com discrição,
para não se equivocar
na sua interpretação.
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Queres conhecer alguém?
Concede-lhe algum poder!
Verás, mais do que ninguém,
quem procuras conhecer.
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Se à dor faltam atenções.
pode a tensão se acirrar.
E a melhor das soluções
é impedi-la a conspirar.
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Se os ventos sopram trapaça,
e no campo há espessa bruma,
segue em frente e jamais faça
das caminhadas, mais uma.
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Se um quarto estiver trancado
nem hesite em vê-lo abrindo,
porque nele, sossegado,
pode alguém estar dormindo.
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Tem medo o homem ao partir,
mais temor sente ao voltar,
lembrando que ao repetir
volta à tona a dor de andar.
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Uma alternativa apenas
tens de mostrar teu valor,
é fazer de obras pequenas
enormes gestos de amor.

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro enviado pelo autor.

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