sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Milton S. Souza (Loucuras do amor)


Tudo tem limite. E ela já vinha ultrapassando todos os limites há bastante tempo. Abraços longos e apertados que mexiam com os meus sentidos. Beijos no rosto, mas tão pertinho dos lábios que eu até podia sentir o gosto do seu batom. E mãos atrevidas que deslizavam por todos os caminhos do meu corpo, numa brincadeira infernal e audaciosa. E eu sempre  puxando o freio: afinal, ela era minha grande amiga, uma mulher casada e, para aumentar a distância, muito mais jovem do que eu. Mas tudo tem limite. Naquela noite, ela chegou sem avisar. Eu estava sozinho no escritório, trabalhando com a porta fechada por causa do calor e do ar condicionado ligado. E ela já entrou passando a chave na porta. Pela primeira vez, me premiou com um longo beijo na boca. O resto aconteceu ao natural...

O velho sofá serviu de leito para a nossa primeira noite de amor. Depois das cortinas fechadas, nos livramos rapidamente das roupas e mergulhamos naquela tão inesperada (ou esperada?) aventura. Uma tempestade de desejos soprou forte e levou para longe alguns raros receios que ainda permaneciam nos nossos corações. E nos entregamos totalmente, como se fôssemos dois adolescentes saboreando as loucuras que as nossas mentes inventavam e desinventavam. O tempo parou. E nós nos descobrimos depois, muitas horas mais tarde, ainda abraçados, como se os nossos corpos estivessem tentando manter para sempre a magia daquele instante. Em silêncio, nos vestimos e permanecemos de mãos dadas, olhos nos olhos, tentando dizer com o olhar tudo aquilo que as nossas palavras não conseguiam...

Esta foi a nossa primeira vez. Depois disso, vieram muitas outras. E sei que muitas outras ainda virão. Tenho certeza disso, porque o meu coração sempre muda de ritmo quando ela chega pertinho de mim. E quando nos abraçamos, sinto que o coração dela também está batendo apressadamente. É claro que sabemos os riscos que estamos correndo, pois este amor que inventamos para nós é proibido aos olhos do mundo. É por isso que vamos mantendo as aparências e agindo sempre como velhos e bons amigos. Mas naquelas horas em que conseguimos nos livrar de tudo o que nos rodeia, quando conquistamos alguns momentos só para nós dois, repetimos novamente, e com mais força ainda, todas as loucuras daquela primeira vez. E quando, por fim, nos separamos, já ficamos contando os dias, as horas e os minutos que faltam para que a gente possa estar novamente nos braços um do outro, para trocar e multiplicar este amor tão louco e tão nosso.

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