No século passado, nos anos cinquenta/sessenta, nada era como agora, quando um lançamento de roupas e calçados são simultâneos em todos os rincões do país. Naquela época, o que era lançado em São Paulo ou Rio de Janeiro demorava muito tempo para chegar a Jaguariaíva. Quem trazia as novidades dos grandes centros eram os barraqueiros da Festa de Agosto que vinham uma vez por ano ou os mascates, vendedores ambulantes, geralmente árabes, que as donas de casa chamavam de compadre e que vinham periodicamente.
A sua maneira de vender era muito simples: não havia cheque pré-datado, nem nota promissória. Simplesmente o “compadre” vendia, anotava em uma caderneta e em todas as vindas fazia a cobrança e vendia mais. Era como dizem: “no fio do bigode”, muito embora as mulheres da época, como as de agora, não os possuíssem.
Certa vez um mascate chegou pela primeira vez em uma residência da cidade e ofereceu os seus produtos. A dona da casa gostou muito das roupas íntimas que o mascate trouxera (calcinhas e sutiãs). Como o seu marido não estava para pagar ela disse que compraria da próxima vez, pois estava sem dinheiro no momento. O “compadre”, como não gostava de perder negócio, disse-lhe:
- Mas isso não é problema “comadre”. Salim anota na caderneta e quando voltar a senhora paga. Salim faz esse com todas as freguesas.
Como ele estava de boa vontade, ela comprou algumas calcinhas e alguns sutiãs os quais pagaria na outra viagem do mascate. Só que se passou algum tempo e o “compadre” não voltou, pois havia tido alguns problemas familiares e só dali a alguns meses pode retornar a Jaguariaíva.
Nesse ínterim, a devedora mudou de casa e como não tinha como se comunicar com o seu credor, nada pode fazer a respeito. Logo a casa foi ocupada por outra família e o marido era um sujeito dado a violento.
O mascate, após visitar diversas clientes, dirigiu-se à casa da sua mais nova compradora para receber o que ela lhe devia e talvez efetuar uma nova boa venda. Lá chegando, bateu palmas no portão e uma senhora o atendeu da porta:
- Boa tarde, comadre, Salim veio mostrar as mercadorias para a senhora e receber o dinheiro das calcinhas e sutiãs que a senhora comprou.
A mulher, surpresa com aquela cobrança inusitada, respondeu-lhe:
- Mas senhor, eu nada comprei e nada lhe devo. O senhor deve estar batendo na porta errada.
Então Salim, sempre bem educado, mas que não admitia perder, disse:
- Como? Eu vendi para a senhora sim! Seu marido não estava e eu fiz-lhe fiado. A senhora tem que pagar ou devolver a mercadoria.
E ela:
- Mas não tenho nada a devolver-lhe senhor!
Então Salim perdeu as estribeiras e começou a falar alto:
- Ou a senhora paga ou eu quero as calcinhas e os sutiãs!
Nisso o marido valentão ia chegando e perguntou o que estava ocorrendo.
Então Salim, que estava possesso, disse:
- Salim quer as calcinhas e os sutiãs que a sua mulher não quer pagar. Quer e agora!
Não deu outra, o marido partiu para cima do mascate, deu-lhe uns bons sopapos e ainda jogou suas malas no meio da rua.
E o pobre mascate juntou os seus pertences e saiu em desabalada carreira sem entender o que havia acontecido!
Fonte:
George Roberto Washington Abrão. Causos hilários e picantes de Jaguariaíva. Maringá, 2016. Ebook enviado pelo autor.
George Roberto Washington Abrão. Causos hilários e picantes de Jaguariaíva. Maringá, 2016. Ebook enviado pelo autor.
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