BETO GOZADOR: — Cadê o toicinho que estava aqui?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — O gato comeu...
BETO GOZADOR: — Engraçadinho! Cadê o gato?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Foi caçar rato.
BETO GOZADOR: — Cadê o rato?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Foi para o mato.
BETO GOZADOR: — Está legal: Cadê o mato?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — O fogo queimou.
BETO GOZADOR: — Já vi que tirou o dia para me sacanear. Tudo bem: Cadê o fogo?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — A água apagou.
BETO GOZADOR: — Ok. Vou entrar na sua. Cadê a água?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — A Emengarda, sua namorada usou para lavar a louça do almoço.
BETO GOZADOR: — Ah, então minha gatinha lembrou de nosso almoço?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Com toda certeza... comentou com a minha Lurdinha.
BETO GOZADOR: — Bom saber. Fiquei de dar uma volta com a Emengarda logo mais à noite... faz tempo que não saímos para nos divertirmos.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Aproveita a ocasião. Leva a Emengarda num cinema, come uma pizza. Mulher nova, na idade da sua, gosta de ser paparicada. Se você não comparecer, logo virará chifrudo.
BETO GOZADOR: — Vá lamber sabão.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Se você me apresentar o sabão...
BETO GOZADOR: — Eustáquio, você não consegue manter um papo sério. Como a Lurdinha lhe aguenta?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Escuta aqui, ô meu. Qual é a sua?
BETO GOZADOR: — Na verdade, não sei. E você, saberia me dizer qual é a de nós dois?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Olha, eu estou igual ladrão de cemitério. Chegou defunto novo, vou ver se trouxe alguma joia pendurada no esqueleto...
BETO GOZADOR: — Como assim?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Espero o encerramento do velório e do enterro. Aguardo todo mundo ir embora e quando dá meia noite, ataco a sepultura.
BETO GOZADOR: — E tem dado certo?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Do último corpo que viajou para os quintos, tirei dois cordões de ouro.
BETO GOZADOR: — Acho que você pirou da cabeça ou entrou na fase da leucotriquia (embranquecimento dos cabelos). Aliás, quando tiver um tempinho, se olhe no espelho. Sua pessoa está me saindo um leucotriquiano de primeira e em bom estado de conservação.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Leuco... o quê? - Repita. O que é isso?
BETO GOZADOR: — O intelectual por aqui é você. Dá uma de Faustão. Se vira nos trinta.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Está bem. Vou parar de conversar com você. Só sai asneiras de sua boca. Credo em cruz! Desconfio que você está precisando urgentemente usar uma sorrelfa (dissimulação).
BETO GOZADOR: — Uma o quê?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Esquece. Gostaria de ganhar de presente um panléxico (léxico universal)?
BETO GOZADOR: — Se você me disser sem pensar qual é a capital do inferno?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Por que? Você já esteve lá?
BETO GOZADOR: — Que pandemônio você está querendo criar na minha cabeça?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Vamos mudar de assunto?
BETO GOZADOR: — Certamente. Qual o tema?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Sabia que a minha Lurdinha fez ontem, por incrível que pareça, o seu primeiro truque?
BETO GOZADOR: — Legal. E qual foi?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Dormiu a noite toda.
BETO GOZADOR: — Então ela é boa de cama?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Melhor até do que eu pensava. Me surpreendeu...
BETO GOZADOR: — Como assim?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Além de ser boa em tudo, de manhã cedo, nem preciso me preocupar com o despertador.
BETO GOZADOR: — Não?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Não.
BETO GOZADOR: — Mas...
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Ela ronca por nós dois.
BETO GOZADOR: — Ronca?
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Sim. Demais. Parece um trator desembestado.
BETO GOZADOR: — Tenho a saída mágica para acabar com esse impasse.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Verdade? Qual?
BETO GOZADOR: — Falando sério, mano. Sem gozação. Eu tenho a solução perfeita e definitiva para pôr fim aos roncos da sua querida e doce amada.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — OK, então fala. Sou todos ouvidos.
BETO GOZADOR: — Disponho, lá em casa de um invento meu. Trata-se de um abafador caseiro para roncadores inveterados. Fiz para usar em meu pai.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — E como funciona?
BETO GOZADOR: — Simples demais. A noite quando a Lurdinha se preparar para dormir, você introduzirá um par de mangueirinhas de plástico nos orifícios do nariz dela e conectará outras duas nos buracos dos ouvidos. Uma terceira estará acoplada a um motorzinho desses que as mães usam para nebulizações em crianças. Ela dormindo e retumbando, ao respirar, receberá o ar do motorzinho e logicamente se assustará com os próprios estrondeamentos espocando nos tímpanos, e medrosa, cessará as reverberações imediatamente.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Legal. Gostei da ideia. Perfeito. Você me caiu do céu. Quer saber? Acho que depois dessa, se a coisa der certo com a Lurdinha e a geringonça funcionar como manda o figurino, vou lhe indicar para outros amigos que têm as suas metades das maçãs em profundas roncações desenfreadas. E não pararei por aí. Apresentarei você ao meu primo, o Juarez Bicudo. Ele é o chefão da Associação Nacional dos Inventores.
BETO GOZADOR: — Se ele me registrar como inventor de assombros, estarei dentro.
EUSTÁQUIO CABELEIRA: — Pelo visto, Bicudo o fará. Ficaremos, pois, assim. Manda lá para casa o trambolho. E me aguarde. Se não funcionar, devolvo o motorzinho e as mangueirinhas para que você enfie goela abaixo.
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Texto enviado pelo autor.
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