(Lendo o Soneto A Carta Interrompida, de COLOMBINA - 1882-1963)
A carta interrompi. Ninguém resiste
que tanto amor acabe desprezado.
Meu mundo colorido ficou triste,
quando escrevi: está tudo acabado.
O trauma deste amor inda persiste,
— por que viver assim amargurado?
A minha mão se agita e ainda insiste
em terminar o show já começado...
Basta postar a carta já escrita,
tudo acabou, a vida é só desdita,
vou aprender viver no meu limite...
No envelope lacrado — quanto medo,
o correio há de levar o meu segredo,
mas o meu coração já não permite!
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
AMOR SUPREMO
Meu coração recorda, emocionado,
o amor que norteou a minha vida,
e continua presente e bem guardado
na inspiração dos versos meus, querida.
Envolto nas lembranças do passado
preservo o que vivi, de fronte erguida.
Vou galopando pelo verde prado
onde a Esperança mora e faz guarida.
E enquanto o coração bater, sedento
vou prosseguir buscando o meu intento:
— continuar feliz por onde eu for.
Quero rever a Luz da madrugada
e despertar ao som da passarada
para viver, contrito, o nosso amor!
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
BARRA DO MENDES
Barra do Mendes no Sertão Baiano,
és bela, culta, forte e hospitaleira,
povo trabalhador, feliz e humano
em busca da amizade verdadeira.
A vitória de um povo veterano
na construção da paz alvissareira
garante que o progresso, soberano,
já chegou na cidade brasileira.
E quando chega alegre, o viajante,
ela oferece abrigo ao visitante
e as belezas do nosso Chapadão.
Eu quero te saudar, Barra do Mendes,
pelo denodo, fé e luz que acendes
nas glórias imortais de Militão*!
= = = = = = = = = = = = = = = = = =
* Coronel Militão Rodrigues Coelho (1859 – 1919) obteve a emancipação de Barra do Mendes.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
CONSEQUÊNCIA
Brigamos sem motivo. Era Setembro,
o campo estava verde e havia flores.
O céu cheio de estrelas, eu me lembro,
e recordo também dos dissabores.
Bem alto ela me disse; "não sou membro
desta família que me trouxe dores.
Quero partir, não fico outro dezembro,
quero ter, pelo mundo, outros amores".
E partiu... Nada fiz, fiquei calado,
o silêncio, por certo, dá um jeito
e não carece de nenhum cuidado...
O tempo vai passando e quando a vejo,
ela disfarça a dor que vai no peito,
e eu finjo que não sinto mais desejo.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
ETERNA BUSCA
Nunca quis navegar por outros mares
que a vida, por acaso, me levou,
nem quis rezar também noutros altares,
pois tua imagem nunca me deixou.
Mas parti procurando outros pilares
para atracar do barco, o que sobrou,
porque no temporal dos meus azares
só saudade, no mundo, me restou.
E agora, já no fim desta procura,
confesso que não tive essa ventura
de esquecer, para sempre, a minha dor.
E tudo que busquei nesta jornada
se resumiu, talvez, num quase nada:
— felicidade, eu sei, só com amor.
Fonte:
Enviado pelo poeta.
Filemon Francisco Martins. Anseios do coração. São Paulo: Scortecci, 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário