domingo, 14 de maio de 2023

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) XXIV


A fonte, com seus arranjos,
regendo a orquestra das matas,
transmite o coro dos anjos
nos bandolins das cascatas!
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A mãe tece os sapatinhos
na janela debruçada,
ao sentir os dois pesinhos
da vida de outra alvorada!
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Ao pôr do Sol, que ironia!
Uma nuvem soluçava,
com dó da melancolia,
que ao lado dela, chorava!
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A ruga, aos poucos prepara,
furtivamente, sem voz,
o tempo mostrando a cara
no rosto de todos nós!
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As folhas secas sem dono,
pisoteadas pelo chão,
lembram que o rosto do outono,
tem cara de solidão!
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De nada, o tempo reclama,
apaga tudo que alcança;
ah, se ele poupasse a chama
da luz de minha esperança!
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De te esperar não se cansa,
minha alma sofrida e boa.
Alma que tem esperança,
tem coração que perdoa!
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Dizem que a justiça é cega;
não creio nessa premissa,
quando a verdade se nega
na voz da própria justiça!
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É quando o amor desaquece
e diz adeus, sem razão,
que o coração permanece
preso à mesma solidão!
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É triste ver que o perjuro
santifica a tirania.
Se acerta os passos no escuro,
tropeça na luz do dia!
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Minha fé não se desfaz.
E, enquanto a sorte não vem,
segue o meu barco da paz,
dando paz a quem não tem!
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Na igrejinha abandonada,
por mais que a vida não veja,
quanta fé desmoronada,
entre os entulhos da igreja!?...
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Não desistas do teu sonho,
que a sonhar, tudo se alcança;
vê, que em tudo que componho,
ponho sonhos de esperança!
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Não sou capaz de explicar,
quem o adeus mais apavora:
Se é quem parte sem chorar,
ou se é quem fica e não chora!
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Não sou tecedor de sonhos,
nem sei tecer madrigais;
deixo os dias mais risonhos,
pondo remendo em meus ais!
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Não te pervertas na vida;
que essa honradez de aparência,
é existência pervertida,
nesta e, na eterna existência!
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Na vida, há muitas surpresas;
mesmo depois da queimada,
pode haver brasas acesas
por sob a cinza apagada!
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O amor, jamais se revolta;
e onde esse amor se agasalha,
quebra os grilhões e se solta
e em todo canto se espalha!
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O amor, na sua mudez,
tem um poder tão profundo,
que pode banir de vez,
todas as mágoas do mundo!
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O tempo firme em seu posto,
severo, não me deu fuga,
até que eu visse em meu rosto
os pés da primeira ruga!
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Perdido em meio a distância,
de volta ao meu velho ninho,
no templo de minha infância,
chorei no mesmo cantinho!
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Quando a trova, é bem urdida,
a todo instante me acalma.
Tem metro e não tem medida,
é bem maior que minha alma!
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Sozinho, na tarde fria,
minha alma, versos compõe;
tece um verso à nostalgia,
do olhar do Sol que se põe!
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Suplico esmolas de luz
diante da cruz do Senhor,
e em silêncio, aos pés da cruz,
sinto a eterna luz do amor!
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Vem, ó trova, vem agora,
eu sem ti, não me concentro;
se és pequenina por fora
és gigantesca por dentro!
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Fonte:
Enviado pelo trovador.
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.

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