domingo, 28 de maio de 2023

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos) – 14 –

BEIJOS DE MENINO


Te beijarei com beijos de menino
Brincando de sonhar e ser feliz,
Cumprindo minha sorte e meu destino,
De ser do teu destino, um aprendiz.

Te abraçarei com meu melhor afeto,
Com minha inocência mais criança
Que escolhe o seu brinquedo predileto
E nem se preocupa com a esperança.

E te amarei com tanta ingenuidade,
Que quando me bater uma saudade,
Dos tempos do amor mais inocente,

Eu vou cerrar os olhos e sorrir,
Pois quando esse tempo me fugir,
Eu hei de te trazer para o presente
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DE RISO EM RISTE

Fingiste não me ver, mas tu me viste...
que triste o teu disfarce... até sorri...
o aceno que te dei, quando te vi,
perdeu-se na alegria que encobriste.

A dor inesperada que eu senti,
tornou-se tão patética... iludiste
teu próprio coração, tu conseguiste
até falar de mim... mas eu ouvi.

Inveja?... falsidade?... o que sentiste?
... ciúme?... onde está teu frenesi?
Agora que estou só, pois já partiste,

meu rosto ri de mim de riso em riste,
Confesso que até me comovi,
Mas já passou assim que tu sumiste.
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EN-CANTO

Mesmo sem voar, o passarinho
canta... que mistério há nesse encanto?
... posso vê-lo rir, sentindo o pranto
que acaricia o seu carinho.

Neste mundo há tanto desencanto...
mas quem é feliz sendo sozinho,
sabe que é na solidão do ninho
que o cantar se torna um acalanto.

Lindo!... alguém dirá... Como ele canta!
...sua solidão, embora tanta,
é a mais sincera companhia,

pois, no canto escuro da gaiola,
o cantar mais triste que o consola,
faz o som tornar-se... poesia.
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NUMA DOBRA DE JOELHOS

A força invisível é sentida,
A cada vez que a vida enfraquece...
É assim que a energia aparece
Da forma mais sutil... e atrevida.

Então, dentro da dor de uma ferida,
Esse impulso oculto e inexplicável
Rebrota de maneira inefável
E mostra, na esperança, nova vida.

Só Deus pode nos dar esse poder,
Que é tão capaz de nos fortalecer,
Que nem a Medicina o compreende,

Só sabe que além dos aparelhos,
É sempre numa dobra de joelhos
Que a fé do ser humano surpreende.
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QUANDO CHEGA O TEMPO

Chega um tempo em que a tristeza só se cura
Com a ternura que ainda habita um coração,
Porque a alma não suporta a amargura
Que perfura a pele dura da razão.

Chega um tempo em que só há uma solução:
Esquecer ou conviver com a dor sentida,
Porque a vida não carece da emoção
De sentir a solidão da própria vida.

Chega o tempo em que qualquer gota de pranto,
Já cansada de traçar o mesmo rumo,
se acomoda em qualquer riso e perde o prumo,

Todavia, basta apenas um encanto,
Que o sonho se esgueira devagar
E alegra a solidão do nosso olhar.
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Fonte:
Luiz Poeta. Nuvens de Versos. Campo Mourão/PR: Ed. J.Feldman, 2020.

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