sábado, 13 de maio de 2023

George Abrão (Reminiscências)

Hoje eu me peguei a recordar dos bons momentos da minha vida, porque dos maus já me olvidei, já os enterrei bem fundo nos recônditos da minha memória.

As primeiras lembranças que me vieram foram as da convivência com os meus pais e com os meus irmãos. Como fomos felizes em nossa modesta vida, como nos divertíamos com o pouco que tínhamos. Hoje, nossos filhos e netos têm de um tudo, só não têm a liberdade que tivemos: nadar no rio, colher frutas no campo do Cerrado, jogar futebol no campinho de terra, subir nas árvores, pescar nos riachos, brincar na rua, andar descalços, bater os pés no cinema, enfim, viver de verdade!

O cheiro dos pães que minha mãe fazia, quando a assar no forno de tijolos; os doces de frutas e as bolachinhas caseiras; o milho-verde assado no brasido do fogão de lenha; o bolo de fubá feito na chapa, em panela de ferro; a comida especial aos domingos e dias festivos; os doces das festinhas de aniversários (ah! o cajuzinho!); o doce de gila que minha avó fazia (eu o chamava de doce de vidro); as balas de ovos e as cocadinhas de mel que eu comprava na loja do Sr. Otto Hoffmann; os sorvetes do Bar Maracanã ou do Bar do Mansur; as frutas que comíamos nos pés, sem agrotóxicos; a água do Chafariz, salobra, mas refrescante; as laranjas gigantes, produzidas na Chácara do Saraiva, nas quais fazíamos uma cavidade, preenchíamos com açúcar e púnhamos sobre a chapa do fogão para assar e formar um delicioso doce; o perfume das uvaias do mato que se sentia a grande distância; e tantas coisas mais que eram privilégios da época.

E quando parece que tudo se perdeu nas brumas da memória, eis que, nos meus sonhos ou nos meus devaneios, para a minha felicidade, tudo volta e como se fosse agora, sinto os aromas, os sabores, as sensações, as alegrias do meu tempo de criança e sinto-me criança, como se esse tempo não houvesse passado.

Fonte:
Enviado pelo autor.
George Roberto Washington Abrão. Momentos – (Crônicas e Poemas de um gordo). Maringá/PR, 2017.

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