(Rio de Janeiro)
RESUMO
Imenso mar de amor. Flutuo, em febre,
sobre ti. Temerário, me condeno
ao vendaval do teu corpo moreno,
em que talvez a minha nau se quebre.
Agora, ilha de paz. Sou ave, lebre,
nimbo e céu. Se teu beijo tem veneno,
tem hálito de flor... O olhar sereno
entra em mim como o luar por um casebre.
És raio, és onda, és fúria, és vendaval,
e és voo, és flor, és luar, és paz sentida,
o que minha alma espera e o corpo quer.
Alma tão pura e carne tão sensual!
Céu e Terra, Alma e Corpo, Sonho e Vida
vêm resumir-se em ti, porque és mulher.
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Elton Carvalho
(Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1994)
LAVRADOR
Nem bem surgiu o rubro da alvorada,
nem bem a noite se aquietou no monte,
já vai o lavrador levando a enxada
e se perde nos longes do horizonte.
E, após uma exaustiva caminhada,
antes mesmo, sequer, que o sol desponte,
rega a terra querida e abençoada
o suor que lhe escorre pela fronte!
Os que tratam da terra todo o dia
e fazem do trabalho uma alegria
têm a chama divina dos heróis.
Há centelhas de luz nos seus destinos:
lavradores são deuses pequeninos
que, da terra e do nada, criam sóis!
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Elza Capanema Leitão
(Rio de Janeiro/RJ)
FASCINAÇÃO
Esculpi, com ternura, a musa inspiradora,
querendo dar meu sangue à pedra dura e fria...
Manejando o buril — ardente e inovadora,
de repente, aos meus pés, Apolo ressurgia!
Uma fascinação nasceu — devastadora,
e, enamorada, eu quis, num passe de magia,
dar vida ao seu perfil de estátua sonhadora,
na luta de um artista, amante, em euforia.
Nas formas divinais, loucamente, procuro
uma prova de amor — o que a minha alma anseia,
neste abismo total —, um desejo inseguro!
Porém, inutilmente, a estátua olha distante,
sem perceber a dor e a lágrima que alteia
esta fascinação estranha e apaixonante.
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Flamínio Caldas
(Campos dos Goytacazes/RJ, 1886 – 1907)
CANÇÃO DA AGONIA
Quando o sangue parar em minhas veias
e cair sobre mim o véu da morte,
tu, que quebraste todas as cadeias
por nosso amor, sê corajosa e forte!
Possam meus olhos, no final transporte,
Ver-te os olhos enxutos. Rindo, creias,
eu cumprirei contente a minha sorte,
aliviado das lágrimas alheias...
Na hora extrema, não quero ver tristeza...
Fale a voz da alegria em cada canto,
nade na luz do sol a natureza!
Que venha, então, a deusa amortecida!...
Mas não chores, que foi todo de pranto
o caminho que fiz por esta vida!
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Idália Krau
(Rio de Janeiro/RJ, 1912 – ????)
A MORTE DO POETA
De asas pandas, o pássaro da morte
rondava aquela noite de tristeza...
Implacável e frio, o vento norte
nossa casa açoitava com rudeza.
O corpo de meu pai, outrora forte,
jazia inanimado sobre a mesa...
Cada círio a queimar em seu suporte,
era a lágrima, a dor chorando acesa!
Finda-se a vida, mas, nem tudo finda,
e ao ler seu livro vi que existe ainda
o eterno coração de um grande esteta;
pois, sua alma cantando em cada verso,
é a doce afirmação, para o Universo,
de que é imortal a vida do Poeta...
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Jacinto de Campos
(Canavieiras/BA, 1900 – ????, Rio de Janeiro/RJ)
AS DUAS PALMEIRAS
Quando passo, buscando a humana lida,
a alma repleta de ilusões tão várias,
junto à velha choupana carcomida,
vejo duas palmeiras solitárias...
Uma a reverdecer... a outra caída,
num desmancho de palmas funerárias...
E, ao som da harpa do vento, a que tem vida,
saudosa plange salmodias e árias...
Ó tu, que me olvidaste no caminho,
meu coração deixando como um ninho
vazio e triste ao vento balouçando,
a saudade me diz, como em segredo,
que és a palmeira que morreu bem cedo
e eu sou aquela que ficou chorando...
Fonte:
Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.
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