REZA
MOTE:
Na hora em que a terra dorme
enrolada em frios véus,
eu ouço uma reza enorme
enchendo o abismo dos céus.
Castro Alves
(Curralinho/BA, 1847-1871, Salvador/BA)
GLOSA:
Na hora em que a terra dorme,
e o silêncio toma conta,
meu pensamento disforme,
com o silêncio se afronta.
E minha alma, assim, tristonha,
enrolada em frios véus
sente, então, grande vergonha
como o mais triste dos réus.
Nesse silêncio uniforme
surgem vozes sonolentas:
- Eu ouço uma reza enorme-
que mais parecem tormentas.
E, às vezes, em oração,
quebram os silêncios meus,
e seguem com emoção
enchendo o abismo dos céus.
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MULHERES...
MOTE:
Vêm as rugas...e, no entanto,
a mulher não se intimida...
A perda externa do encanto
não desencanta uma vida!
Edmar Japiassú Maia
(Nova Friburgo/RJ)
GLOSA:
Vêm as rugas...e, no entanto,
o sonho não envelhece,
fica mais forte, garanto,
traz a força de uma prece!
Sonhar, traz felicidade!
A mulher não se intimida...
pois sonha com suavidade
em qualquer tempo da vida!
Jamais derrama seu pranto
vendo a velhice chegar...
A perda externa do encanto
não vai sua alma abalar!
Uma mulher de verdade,
não será, nunca vencida,
mesmo o avançado da idade,
não desencanta uma vida!
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PALHAÇO
MOTE:
Vencendo todo o cansaço,
decerto gargalharei,
pois hoje sou um palhaço,
dos sonhos que não sonhei!
Giselda Medeiros
(Fortaleza/CE)
GLOSA:
Vencendo todo o cansaço,
da tristeza que angustia,
vou seguindo, passo a passo,
e talvez, até sorria...
Se, de fato, eu conseguir,
decerto gargalharei,
pois o tempo é de sorrir
por tudo quanto chorei!
Cantarolar é o que eu faço
mundo afora, sempre, a esmo,
pois hoje sou um palhaço,
um palhaço de mim mesmo!
Sigo, então, a minha estrada
e feliz sei que serei,
pois me encontro compensada
dos sonhos que não sonhei!
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MAR... MONSTRO SAGRADO...
MOTE:
O mar é monstro sagrado,
mas fragilmente desmaia,
quando beija apaixonado
os lábios quentes da praia!
José Lucas de Barros
(Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN)
GLOSA:
O mar é monstro sagrado,
com suas ondas enormes
por ventos, transfigurado,
provoca visões disformes!
É imenso, é potente, é forte,
mas facilmente desmaia,
bendizendo a sua sorte,
mais um doce beijo ensaia!
Fica o mar todo excitado
no vaivém de suas ondas,
quando beija apaixonado
os grãos de areia, nas rondas!
Em êxtase, quer ficar,
como espontânea cobaia,
para, então, sempre beijar
os lábios quentes da praia!
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ROSÁRIO DE LEMBRANÇAS
MOTE:
Sozinho, ao fim das andanças,
desfio nas madrugadas
meu rosário de lembranças
de ousadias não tentadas...
Sérgio Bernardo
(Rio de Janeiro/RJ)
GLOSA:
Sozinho, ao fim das andanças,
em completa solidão,
só tenho desesperanças
no meu pobre coração!
Assim, tão só e infeliz
desfio nas madrugadas
o que eu sonhei e não fiz,
num tudo cheio de nadas!
Nessas tristes remembranças
rezo do começo ao fim
meu rosário de lembranças
e sinto pena de mim!
Passo a noite a relembrar,
em horas enfeitiçadas,
que minha vida é um mar
de ousadias não tentadas…
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Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas X. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Agosto 2003.
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas X. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Agosto 2003.
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