sábado, 6 de maio de 2023

Antero Jerónimo (Poemas avulsos)

Abracei-te 
com os meus olhos
absorvi o teu brilho 
o teu sorriso 
a doçura desse menear
bebi e saboreei 
cada palavra
cada gesto
cada contorno sedutor
na volúpia do poema
que alimenta os sentidos
embriagado de ti
sorrio para mim
num sorriso que se alinha
com um rasto imaginário
um rasgo de inspiração
que dá mais sentido à vida.
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Arquiteto-me nas palavras
e de sensações me construo;
naquelas onde preencho os alicerces
e edifico a coragem para me questionar.

Nas raízes das sombras profundas
brotam resistentes e maturados caules 
libertando alvas pétalas de esperança.

O poema resistirá às intempéries temporais.
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DÁ-ME UM ABRAÇO

Dá-me um abraço
Que seja espaço bem estreitado
Onde apenas caiba a sintonia de vontades

Dá-me um abraço
Que recomponha formas quebradas
Das vicissitudes que nos atropelam a alma

Dá-me um abraço
Que seja singelo na sua inocência
Não corrompido pela rudeza da indiferença

Dá-me um abraço
Que seja corrente de seiva unificada
Palpitando no aconchego do seio apaziguador

Dá-me um abraço
Que seja pele, amor e poema
Um abraço onde caibam todos os silêncios.
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Defensor da Humanidade
tu que furtaste o fogo celestial
provocando a ira divina

Desamarra-me da lógica enfadonha
destes dias em que me enleio

Deste relógio que nos acorrenta
ao rochedo da abnegada complacência

Que nos debica,
implacavelmente
até à mais ínfima porção

Nesta vontade resiliente
de resistir à opressão.
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MEMÓRIA ADORMECIDA

A revolta corrói por dentro, intensa
no corpo cansado de reprimir
mastigam-se côdeas de desespero no resistir
no dizer não ao sobreviver de sentença
a liberdade atraiçoada em desumana condição
moldes em série de vontades amordaçadas
verdades construídas sobre mentiras subornadas
o cravo encimando espingardas é disforme ilusão
a ignomínia promessa já não cabe nesta hora
aviva as frias cinzas repletas da nossa história
corpo adormecido ergue pensamento d’outrora
onde a coragem encheu páginas de glória.
Acorda breve que o dia já demora
ó Corpo de Gente, adormecido na memória.
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O amor conquista.
A saudade resiste.

Conquistar é ter asas na imaginação
Resistir é ter uma couraça no coração

O amor, qual casa de portas e janelas abertas
A saudade bate fundo em horas incertas

O amor persegue um ideal, de pureza
A saudade resguarda-se, indiferente, na tristeza

O amor é um farol a indicar o caminho
A saudade caminha por entre sombras de mansinho

A saudade não é mais do que a prova provada
De que o amor é marca indelével no tempo.
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Seduz-me
àquele ponto
em que as vestes tentadoras
tombam no chão sem pudor
Seduz-me
enquanto feixes de luz
moldam lascivamente os teus contornos
incendiando meu olhar de tentação
Seduz-me
com aquele poder
que tu dominas com mestria
de cada gesto ser um convite ousado
alimentares em mim o teu desejo alado
Seduz-me
tira tudo de mim
eleva-me ao teu altar
e saboreia cada trago
nesse cálice de ressurreição.
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TENTAÇÃO

Quero
que me surpreendas
me tires o chão
e me prendas

que me soltes as amarras
me dispas de preconceitos
nesse teu jeito

que me envolvas
num círculo viciante
sem afrouxar

que me bebas
até à última gota
da vertical tentação

que me sorrias
com os lábios febris
de orvalhada satisfação.
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QUADRIVERSOS DIVERSOS

Artesão de silêncios 
é tão simplesmente 
aquele que aprendeu a arte
de acertar os ponteiros do tempo.
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A saudade são alvos fiapos 
dependurados na imensidão 
do pensamento, nesse lugar
onde a lembrança se faz eterna.
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Em promessa de renovado acreditar
à luz da ressurreição da palavra 
a natureza veste-se de singelo milagre
na fé que absolve o espinho dos dias.
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Existem capítulos felizes 
de livros que já não lemos,
mas que guardamos religiosamente,
na biblioteca de nossa existência.
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Inebria-se o olhar 
preso ao fogo ardente dos lábios
estilhaçando os contornos da lucidez
onde se reveste o meu corpo trémulo.
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Saibamos sabiamente costurar
com o fio resistente da humanização
um mundo em vontades dilacerado
pela imprudente cegueira da ambição.

Fonte:
– Poemas enviados por Isabel Furini
– Página do poeta no facebook: Na Pele do Sentir. https://www.facebook.com/antero.jeronimo.autor

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns caríssimo 👏👏✌️🙏
A poesia não tem fronteiras é livre 👍👏🤗