— LÁ EM CASA, – anunciou o Samuca – vovô botou a mão em cima da cabeça do meu pai e ele virou médico.
— Grande coisa, Samuca, berrou Eduardo. O meu avô botou a mão em cima da cabeça de meu pai e ele virou engenheiro. Hoje constrói prédios, casas, shoppings, supermercados, os cambaus...
—... Como vocês são idiotas. – observou o Maninho – Meu avô Aristóteles botou a mão em cima da cabeça de meu pai e ele virou jornalista. Viaja o mundo inteiro, conhece gente nova, come comidas diferentes, vê os mais diversificados costumes, fala um monte de idiomas...
— Vocês são mesmo uns babacas. – obtemperou “Jorginho da Muleta” - . Meu avô botou a mão em cima da cabeça de meu pai e ele virou pastor. Já comprou duas mansões num bairro nobre aqui de São Paulo, tem fazendas, sítios, chácaras, um barco do tamanho da Lady Laura de Roberto Carlos, e, recente, adquiriu um helicóptero igual ao de Neymar.
— Quer saber de uma coisa? – Acho vocês todos uns “babacas” – emendou “Lucas Tinhoso”. Meu avô foi mais esperto do que todos os seus parentes juntos. Botou a mão na cabeça de meu pai e ele virou homem casado. Como vocês sabem ele é um excelente pai de família. Tem a sua vida certinha, emprego garantido, e, amanhã, faz uma semana que mudamos para um condomínio de alto padrão em Alphaville.
Fez pose de gente importante antes de acrescentar:
— Lá moram as filhas de Silvio Santos, o Ratinho tem uma casa, o Carlos Alberto de “A Praça é Nossa” também...
Nesse momento, a galera, em peso, deu conta da presença de um guri que, cabisbaixo, mirava o chão em silencio:
— E você, Epaminondas, qual o motivo de estar calado feito boi fujão? Perdeu a língua?
— Nada não!
— Como, nada não?... conta aí!...
— Não.
— Pra não ficar por baixo ele está tentando inventar uma desculpa pra nos jogar na cara.
Samuca se adiantou e fez a sua observação maldosa:
— Vai ver ele não tem avô, nem tio, nem irmão...
— É mesmo! Ele não tem família. – arrematou Maninho caindo numa baita gargalhada – Epaminondas é “desfamiliarizado”.
— E “despaiado”. – acrescentou o “Jorginho da Muleta”
— Que droga é essa, Jorginho?
— “Despaiado?” – Sem pai, ora bolas!
Epaminondas, contudo, se levantou furioso e colérico. E esbravejou, irado:
— Tenho sim.
— Tem nada...
O guri perdeu a esportiva. Tentou distribuir socos e pontapés em alguns, mas seus esforços redundaram em vão:
— Tenho... seus idiotas.
— Tem o quê, Epaminondas?
— Tenho avô, tenho mãe, tia e até um primo de vinte e dois anos, campeão de natação cheio de medalhas e pasmem, primo de papai que veio lá do estrangeiro e passou a morar lá em casa...
— E daí?
— Isso mesmo bobão, e daí?
— Então... ele passou a mão em cima da cabeça de meu pai e ele virou corno...
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Texto enviado pelo autor.
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