domingo, 8 de julho de 2012

Marlene Carvalho (Princesas e Heróis na Sala de Aula: dos contos de fadas a Harry Potter)


Que mistério existe nos contos de fadas que faz com que atravessem o tempo e o espaço, permanecendo na memória das sucessivas gerações? Como essas histórias passam de um país para o outro, de um para outro continente? Qual o motivo da fascinação que exercem? Os contos de fadas são bons ou ruins para as crianças da Educação infantil e das classes de alfabetização? 

O meu ponto de vista é que na sala de aula do século XXI há lugar para princesas e heróis, bruxas e vilões, castelos enfeitiçados e florestas mágicas, por vários motivos: em primeiro lugar, porque nos tornamos humanos por meio da linguagem, e ouvir histórias faz parte desse processo. Em segundo lugar, porque os contos de fadas, de estrutura aparentemente simples, falam dos conflitos da condição humana, do ciclo da vida, em termos simbólicos, à altura da compreensão infantil, colocando a criança em contato com outras realidades que não aquelas do cotidiano. Finalmente, porque heróis e heroínas podem influenciar favoravelmente a formação da identidade. 

A escritora francesa Jacqueline Held expressa com exatidão a importância da literatura, que fala ao imaginário, para o desenvolvimento da criança: 

O papel do fantástico não é, de maneira nenhuma, dar à criança receitas de saber e de ação,por mais exatas que sejam.A literatura fantástica e poética é, antes de tudo, e indissociavelmente, fonte de maravilhamento e de reflexão pessoal, fontes de espírito crítico, porque toda descoberta de beleza nos torna exigentes e, pois, mais críticos diante do mundo. (HELD, 1980, p. 234) 

Mesmo assim, pensando em termos práticos, quando se trata de crianças que ainda não sabem ler, ou estão aprendendo, é possível que a professora se pergunte: será que vale a pena investir o tempo escasso em sala de aula com leitura de contos de fadas? 

Minha resposta é positiva: especialmente nas classes de Educação Infantil e de alfabetização, mas também nas outras etapas da escolaridade, a leitura de boas histórias favorece o processo de letramento. Desenvolve a curiosidade pelos livros, forma o gosto literário e faz com que os alunos se familiarizem com as convenções da língua escrita, especialmente com a sintaxe e o vocabulário. Imaginemos uma criança de seis anos, que está sendo alfabetizada, ouvindo este trecho da história de Pinóquio: 

O infeliz Pinocchio, cujos olhos estavam ainda meio fechados de sono, não descobriu imediatamente que seus pés haviam sido queimados.Assim que ouviu a voz de Geppetto,deixou-se escorregar da cadeira para ir correndo abrir a porta; mas cambaleou e caiu, estendendo-se a fio comprido no chão - e o barulho que fez como a queda foi como se um feixe de lenha houvesse sido lançado de um quinto andar. (COLLODI, 1957, p. 31) 

Na vida cotidiana, a criança que escuta a história provavelmente nunca ouviu ninguém dizer “cujos olhos”, ou a frase “estendendo-se no chão a fio comprido”.

Também desconhecia a palavra cambaleou, o que pouco importa, mesmo assim ela é capaz de acompanhar a narrativa maravilhosa, ainda que o sentido de um ou outro termo lhe escape. Se as leituras se multiplicarem, haverá outras ocasiões para reencontrar essas e outras palavras novas, que logo farão parte do seu vocabulário. Aí é que entra o papel decisivo da professora, que ao longo do ciclo da alfabetização terá oportunidade de contar dezenas de histórias e de formar um gosto definitivo pela literatura. 

Cada professora deveria cultivar seu próprio repertório de literatura oral, incluindo contos de fadas favoritos, lendas, “causos” da vida real, ou histórias de família, que fazem sucesso entre as crianças. Além diso, há o acervo inesgotável das histórias publicadas. Narradores profissionais decoram as histórias para contá-las de cor, respeitando a beleza da linguagem dos autores. Dificilmente os professores dispõem de 
tempo para isso, mas podem ler em voz alta as histórias, sem acréscimos, sem mudanças, sem omissões, com fidelidade aos textos originais. Os grandes escritores nacionais: Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Bartolomeu Campos de Queirós, Sylvia Orthof, Fernanda Lopes de Almeida, Cecília Meireles, Monteiro Lobato, e tantos outros, agradecem. 

O QUE SE SABE SOBRE A ORIGEM E A DIFUSÃO DOS CONTOS DE FADAS? 

Nem sempre há fadas nos chamados contos de fadas. Um dos especialistas neste assunto, o russo Vladimir Propp (1984), prefere a denominação contos maravilhosos para englobar tanto os contos de fadas quanto os contos folclóricos. Alguns especialistas em literatura infantil, como Jacqueline Held e outros, usam a expressão “contos fantásticos” para classificar histórias que contêm elementos mágicos ou fantasiosos; inclusive ficção científica. 

Segundo Marina Warner, autora do livro Da fera à loira. Sobre contos de fadas e seus narradores (1999), a origem dos contos de fadas é incerta, e há várias teorias que tentam explicar a difusão e a permanência deles ao longo dos séculos. “Os enredos são nômades, percorrendo o mundo e o milênio, surgindo em pergaminhos na Pérsia medieval, em forma oral nos Pireneus, numa balada entoada nas regiões montanhosas, num conto de fadas do Caribe”, diz a autora (op.cit., p.20). 

A teoria do difusionismo sustenta que essas histórias são propagadas através das fronteiras, vindas de origens distantes – muita vez do Oriente. A Índia, por exemplo, é citada como fonte de uma coleção de 70 contos, denominada Panchatantra, compilada por volta do século VI a.C. por um sábio brâmane, Bidpai. Aparecem nos contos de fadas elementos de romances e mitos gregos, dos moralistas romanos, das Mil e uma noites, das fábulas com animais, dos chistes medievais e ainda da vida dos santos (WARNER, 1999, p.20). 

No entanto, uma teoria diferente, a dos arquétipos, defende que a estrutura psíquica do homem, sua imaginação e as experiências comuns da sociedade humana inspiram histórias que se assemelham umas às outras, mesmo quando não teria sido possível haver nenhum contato, ou troca, entre as culturas ou os narradores. 

Um outro modo de se pensar os contos de fadas, ainda segundo Warner, seria considerá-los como se fossem elaborados em uma outra linguagem, a linguagem da imaginação, com uma sintaxe de enredos. 

OS GRANDES CLÁSSICOS. CHARLES PERRAULT, OS IRMÃOS GRIMM, HANS CHRISTIAN ANDERSEN. 

Do ponto de vista histórico, sabe-se que os contos de fadas mais conhecidos no ocidente têm origem na tradição oral: eram contados de boca em boca, nos serões à beira do fogo, na intimidade das famílias, ou nas festas populares, para um público misto, composto de crianças, jovens e adultos de todas as idades. 

Foi na altura do século XVII, na França, que Charles Perrault, membro da Academia Francesa de Letras, interessado nas produções literárias de seu país, recolheu algumas dessas narrativas populares, e reuniu-as no livro Contos da Mamãe Gansa, publicado em 1667. Para salvaguardar sua imagem de escritor sério, apresentou 

o livro à corte como sendo escrito por seu filho, e assumiu apenas a autoria dos conselhos ou ensinamentos morais que encerravam cada história. Curioso é que os trabalhos eruditos de Perrault foram totalmente esquecidos, mas as suas versões de Cinderela, O gato de botas, O pequeno polegar e outros contos, tornaram seu autor imortal. 

Outros grandes nomes do gênero contos de fadas são os Irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, que viveram na Alemanha, do fim do século XVIII aos meados do século XIX. Ambos eram pesquisadores, grandes conhecedores da língua e da cultura alemãs, e trabalharam como bibliotecários. Nessa época, as mudanças sociais ocorridas devido à ascensão da burguesia provocaram interesse pela edição de livros destinados à infância, que passava a ser reconhecida como uma fase diferente da idade adulta. Os irmãos Grimm recolheram e transcreveram contos e lendas da tradição oral alemã e publicaram em 1812 o primeiro volume intitulado Histórias da criança e do lar, livro que alcançou grande sucesso. Dentre as histórias publicadas pelos irmãos Grimm, destacam-se A bela adormecida, Chapeuzinho vermelho, Rosa Alva e Rosa Carmim e João e Maria. 

Os livros desses pioneiros foram seguidos por outros, até o momento em que os contos de fadas tornaram-se moda nos salões elegantes da Europa. Damas da nobreza, como Madame d’Aulnoy e Mademoiselle de la Force, novelista francesa, escreveram contos que na época foram muito lidos e apreciados. 

Um lugar especial na literatura infanto-juvenil é ocupado por Hans Christian Andersen, autor dinamarquês que viveu no século XIX. De origem humilde – pai sapateiro e mãe lavadeira – frequentou pouca escola, mas foi estimulado a ler pelo pai e cedo conheceu as obras de Shakespeare e as Mil e uma noites. Órfão de pai aos 14 anos, muito pobre, tentou ser ator, mas não obteve êxito. Foi na literatura que alcançou fama e realização pessoal. Diferentemente de Perrault e dos irmãos Grimm, Andersen criava suas próprias histórias, não as recolhendo da tradição popular e do folclore. Em 1835 escreveu sua primeira coletânea de contos infantis. Ao morrer deixou um legado de aproximadamente 150 histórias, muitas das quais têm traços de tristeza e melancolia, como A sereiazinha, O pinheiro de Natal, Os sapatos vermelhos, O soldadinho e a bailarina,e a trágica história A pequena vendedora de fósforos, sobre uma menina que morre de frio. 

No entanto, uma das suas obras primas, que fala das dores do abandono e da rejeição, tem um final feliz quando O patinho feio encontra-se com os cisnes brancos num lago e pensa que mais uma vez será atacado. Eis o final dramático do conto: 

Matai-me, se quiserdes! ? disse ele. E curvou a cabeça para baixo, para a água, à espera da morte. Mas... Que viu ele na água cristalina? Era a sua própria imagem, refletida ali. Mas não era a de um pato, um pardo e feio pato. Era um cisne que ele via no espelho d’água. Não importa ter nascido num galinheiro, entre patos, quando se saiu de um ovo de cisne. (ANDERSEN, 1978, p. 250) 

TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DOS CONTOS DE FADAS 

As épocas em que se passam as histórias de fadas são incertas, desconhecidas. A tradicional abertura das histórias, o famoso Era uma vez, não indica tempo. 

O cenário tradicional costuma ser remoto: o palácio, a floresta, o reino distante e sem nome. O palácio é geralmente descrito com detalhes que destacam a riqueza e o luxo em que viviam os nobres, em contraste 
com as casas nuas e frias dos pobres. Nos palácios, há mobílias douradas, baixelas de prata e ouro, lagos, jardins, salões e criados em quantidade. A comida é servida em baixelas de ouro e prata, e a bebida, em taças de cristal. 

No conto O Rouxinol, Andersen faz uma descrição detalhada do palácio do imperador de um reino distante, do seu jardim fantástico, no limite de uma floresta sem igual. A época em que aconteceu a história é indeterminada. 

Na China, como deveis saber, o imperador é chinês e todos que o rodeiam são chineses. Isso foi há muitos anos, mas por isso mesmo vale a pena ouvir a história, para não esquecê-la. O palácio do imperador era o mais suntuoso do mundo, todo feito de fina porcelana, muito preciosa e muito frágil. Todo cuidado era pouco, pois era um verdadeiro perigo tocá-la. No jardim, viam-se as mais esquisitas flores, e junto às mais extraordinárias delas havia campainhas de prata, que tilintavam, para que ninguém passasse sem notar a flor. Era tudo muito requintado no jardim imperial, tão extenso que nem o próprio jardineiro lhe conhecia os limites. Continuando-se a andar pelo jardim, chegava-se a mais maravilhosa floresta,com altas árvores e lagos profundos.A floresta estendia-se até o mar, azul e imenso. (ANDERSEN, op.cit. p. 224) 

Que papel teriam, nos contos de fadas, essas descrições de palácios suntuosos e jardins fantásticos? Elas destacam as diferenças entre ricos e pobres, diferenças essas que são apresentadas como “naturais”, cabendo aos pobres sonhar com a opulência das refeições e a riqueza dos trajes. Visualizar um mundo fantástico nos ajuda a enxergar o mundo real. 

Por vezes, para alcançar a riqueza, o luxo e o reconhecimento, o herói realiza grandes façanhas, conquista a mão da princesa e habita o palácio. Acontece também que a menina pobre e maltratada se case com 

o príncipe. Esses elementos imaginários são poderosos e continuam presentes em muitas histórias da atualidade, como nas novelas de televisão brasileiras, que têm um núcleo de personagens ricos e outro, ou outros, de personagens pobres. Também no cinema o enredo de Cinderela se repete em um bom número de filmes, como em Uma linda mulher, com Julia Roberts no papel de uma garota de programa que se casa com um milionário, que não por acaso aparece na cena final montado num cavalo branco. 

Outra característica de algumas histórias, não de todas, é incluir ou deixar entrever um ensinamento, uma regra de conduta moral. O final feliz, porém, é generalizado: tradicionalmente o conto de fadas termina 
bem, com alívio da tensão provocada pelas infelicidades e peripécias do herói. Como disse Warner (op.cit., p.18), “o gênero é caracterizado por um ‘otimismo heróico’, como se dissesse,‘um dia talvez sejamos felizes, mesmo que não para sempre”. A exceção a essa regra do final feliz fica por conta de alguns contos de Andersen. 

Embora todos os aspectos até aqui citados contribuam para uma definição do gênero conto de fadas, o fator mais importante, segundo Warner (op. cit.), é o fenômeno da metamorfose. A metamorfose, ou mudança da forma, aparece de mil maneiras: mãos são cortadas e depois religadas ao corpo, rapazes se transformam em cisnes, uma lâmpada se transforma num talismã poderoso, a mendiga vira uma poderosa feiticeira, a mulher repugnante vestida com uma pele de asno transforma-se numa linda princesa de cabelos dourados. No reino das fadas, tudo é possível, nada é definitivo, tudo pode ser transformado. 

Há personagens nomeados, como João e Maria, Cinderela, Branca de Neve, mas muitos outros – o rei, a rainha, a princesa, o príncipe – são figuras anônimas que não pertenciam ao âmbito social e histórico dos narradores. 

Nas histórias de fadas, os grandes momentos e as crises vividas ao longo da existência – infância, juventude, casamento, viuvez, velhice e morte – são narrados em linguagem simbólica, à altura do entendimento da criança. Por exemplo, a chegada do jovem à idade adulta é representada pela passagem de duras provas – matar um dragão, enganar os cães de guarda com olhos do tamanho de pires, atravessar um mar agitado, perder-se numa ilha, construir um barco, ou escalar uma montanha inacessível são algumas dessas façanhas. Os heróis sofrem, lutam; mas, como disse o psicanalista infantil Bruno Bettelheim (1980), no livro Psicanálise dos contos de fadas, eles cativam as crianças porque vencem os inimigos, enfrentam as forças da natureza ou da má sorte, e finalmente emergem vitoriosos, por sua inteligência, força, coragem ou esperteza. 

Como as personagens raramente são complexas, existe separação nítida entre o bem e o mal, a virtude e a maldade, os heróis e os vilões. Note-se que os personagens que representam o mal também são atraentes para a criança, que teme e, ao mesmo tempo, admira a bruxa, o monstro, o gigante malvado. Mas a trajetória do herói é mais fascinante porque á criança a esperança de que ela própria um dia vencerá suas dificuldades. Este é um aspecto importante da influência dos contos de fadas na formação da identidade infantil. 

Vários conflitos familiares aparecem nas histórias, como a rivalidade entre irmãos ou irmãs, em Cinderela; entre a madrasta e a enteada, em Branca de Neve; entre mãe e filha, em Rosa Branca e Rosa Vermelha. Bettelheim e outros psicanalistas apontaram significados sexuais em algumas narrativas, como o desejo incestuoso do pai pela filha, em Pele de Asno; ou a sedução da jovem inexperiente pelo lobo de Chapeuzinho Vermelho. A morte do pai ou da mãe aparece em muitas histórias e a partilha da herança paterna costuma ser fonte de conflitos entre irmãos e de dificuldades para o herói. Diante disso cabe perguntar: será que os contos de fadas são adequados para crianças? 

Muitos pais e professores se dão conta de aspectos sombrios dos contos de fadas e evitam contá-los; outros modificam ou omitem os detalhes cruéis porque temem assustar ou traumatizar as crianças. Essa questão tem sido discutida por psicólogos, psicanalistas e educadores. Em geral, eles afirmam que os contos de fadas, ainda que tenham figuras ameaçadoras e lances macabros, não causam dano porque a criança percebe que se trata de uma história que a fascina, pois ela experimenta emoções fortes – o susto, o medo – ao mesmo tempo em que se sente a salvo, no mundo real, em companhia daquele que conta a história. Como disse uma menina de 10 anos, que adorava um livro cujos heróis são transportados para o espaço numa nave: “gosto de deitar à noite em minha cama e dizer para mim mesma: ainda bem, ainda bem que essa história não existe” (citado por Jacqueline Held, op.cit., p.85). Segundo Held, a essência do prazer de ler é “projetar-se no herói, partilhar de suas angústias e perigos, permanecendo, no entanto, você mesmo.” 

OS AUTORES CONTEMPORÂNEOS REINVENTAM OS CONTOS DE FADAS. 

O que dizer da chamada “literatura fantástica” contemporânea? 

A ficção cientifica também é uma modalidade de literatura fantástica: o super-herói, o foguete interplanetário, o robô, o ET, a nave espacial representam a evolução e o enriquecimento de outros mitos presentes na literatura. É interessante observar que aquilo que é fantástico numa dada época torna-se possível ou real num outro momento. Os livros de ficção científica projetam invenções, novas realidades, mas partem de situações conhecidas do espectador de televisão, de cinema, ou do leitor. 

Na história da literatura infantil, a transição de um mundo natural para o fantástico faz o encanto de muitas obras. Por exemplo, em Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, a menina está sentada, pensando na vida, quando cai num túnel e se encontra em outra dimensão do tempo e do espaço. Na série de narrativas de Monteiro Lobato sobre o sítio do Picapau amarelo, a vida do Pedrinho e da Narizinho, durante as férias, segue normalmente, ao lado da avó Dona Benta e da cozinheira Anastácia. O fantástico surge com as figuras extraordinárias da Emília, a boneca malcriada, o sábio Visconde de Sabugosa, feito de sabugo de milho, o Burro falante, um anjinho caído do céu e outras maravilhas. 

Um grande sucesso do cinema e da literatura contemporânea é a série Harry Potter, de autoria de J.K. Rowling (2010). O menino órfão, adotado pelos tios, levava uma vidinha monótona, até que chega a notícia de que deve mudar-se para o Colégio Hogwarts de Magia e Feitiçaria. Essa escola tem muitos elementos da realidade escolar: professores bons e maus, grupinhos de alunos, jogos, esportes, rivalidades; porém, ao mesmo tempo, existem vilões e meninos bruxos com 
poderes extraordinários. 

Na literatura infantil brasileira há belos exemplos de mundos extraordinários que contêm elementos da vida real. Para citar apenas alguns, destaco Fernanda Lopes de Almeida (1971), que escreveu A fada que tinha ideias, sobre a pequena fada rebelde que frequentava a contragosto uma escola tradicional, com lições, provas e livros didáticos. Em várias obras, Lygia Bojunga (1976, 1978, 1989) e Bartolomeu Campos de Queirós (2002) transitam entre o mundo real e o imaginário, usando a fantasia para criar enredos, cenários e personagens inesquecíveis. 

Concluindo, mudam os tempos, personagens e cenários, mas permanecem os mitos, os heróis, a luta entre o bem e o mal, assim como permanece o prazer de ler e ouvir histórias. A literatura continua a exercer influência na formação da identidade de crianças e jovens, ensinando-os a sonhar e a imaginar que outros destinos são possíveis. Essas são algumas das boas razões para levar princesas e heróis para as salas de aula. . 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ALMEIDA, Fernanda Lopes de. A fada que tinha ideias. São Paulo: Editora Ática, 1971. 
ANDERSEN, Hans Christian. Contos de Andersen. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. 
BETTELHEIM, Bruno. Psicanálise dos contos de fadas. 7. ed. Paz e Terra, 1980. 
BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. Rio de Janeiro: Agir, 1976. 
______. A casa da madrinha. Rio de Janeiro: Agir, 1976. 
______. O sofá estampado. Rio de Janeiro: Agir, 1980. 
COLLODI, Carlo. Pinocchio. 9. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957. 
HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. São Paulo: Summus Editorial, 1977. 
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1993. 
______. Memórias da Emília. Rio de Janeiro: Globo, 2007. 
PROPP,Vladimir Iakovlevich. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1984. 
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Onde tem bruxa, tem fada.3.ed. São Paulo: Moderna, 2002. 
ROWLING, J.K. Coleção Harry Potter. São Paulo: Editora Rocco, 2010. 
WARNER, Marina. Da fera à loira: sobre contos de fadas e seus narradores. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 

Marlene Carvalho – Doutora em Ciências da Educação pela Université de l'Etat a Liege, Bélgica. Professora aposentada da Faculdade de Educação da UFRJ e do Mestrado em Educação da Universidade Católica de Petrópolis. Membro do LEDUC (Laboratório de Estudos de Leitura, Escrita e Educação) da Faculdade de Educação da UFRJ. 

Fonte:
SEDE DE LER. Ano 1 | n.1 | novembro de 2010 – Publicação semestral do PROALE – Programa de Alfabetização e Leitura – Faculdade de Educação Universidade Federal Fluminense

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