sábado, 15 de agosto de 2020

Carla Rejane Silva (O Reflexo de minha Alma)

 


Olhando no espelho da minha alma, juro ter visto o reflexo de meu “eu interior” de uma forma diferenciada. Todo ele se abriu como um leque necessário às minhas tristezas e agonias. Talvez por isso, me senti despida, sem roupas de sentimentos. Em caminhos opostos e tortuosos, pressenti um turbilhão de rugas expostas, refolhos e carquilhos adentrando a minha alma.  Tudo, em derredor de mim se fez, ou melhor, tudo em redor de mim é solidão e tristeza. Somente tristeza e solidão. Agonia e dissabores para ser humano nenhum colocar defeito.
 
Num abrir e fechar de olhos me perco nas batidas do meu próprio silêncio. Um silêncio que, de repente, se vê queimado pelo fogo da intolerância, e não só dela, da insensatez também. Tudo por causa daquelas palavras que me foram ditas assim, sem mais nem menos, sem que eu esperasse. Ou quisesse. Ou imaginasse um dia ouvir. Aquela chuva de frases pronunciadas no calor do desespero, na sofreguidão de um momento cruel e bárbaro, bárbaro e cruel. O problema “a depois”, foi que tudo se transformou num momento doloroso que me aniquilou. Enfim, por fim, o fato é que essas ações, chuvas de frases perfuraram com profundidade minha desilusão que, sem saída, se viu às raias da loucura.  

Nesse tormento imensurável e abissal, que me transportei, me perdi sem ter como voltar atrás. Acredite! A minha vida, aquela vidinha vivida somente para seus costumes, minhas ganas e manias, se perdeu ao sabor do nada, unicamente por sentir que seus olhos enxergavam apenas meus anos vividos e o tempo transcorrido. Que pena! Que grande e imensa pena!
 
Bem sei, não posso mudar o tempo, tampouco os anos. Não posso retrogradar, tipo ser jovem de novo, me refazer, me reconstruir, para fazer bem ao seu ego esmaecido. Hoje, minhas primaveras são floridas, alastradas de pétalas de rosas e margaridas. Em cada ruga de meu rosto pálido há uma flor. Uma flor em ascensão. Porém, em queda também. Em cada flor, um amor... Isso somente foi o que me restou: amor, carinho e ingenuidade. Ah, se você aceitasse as minhas doces imperfeições! Sei que nesse mundo, às vezes, com o passar das primaveras, ficamos com os passos mais lentos e os pensamentos  desgastados, descoloridos, e claro, menos atrevidos.
 
Em consequência, o coração entra em dessintonia. Apenas emite um sussurro embrutecido, como se fosse um desatino vulgar. Às vezes, parece mavioso. Às vezes, não. Tudo embola numa arruaça entorpecida. Sei que as belas flores você cobiça, e o faz com razão. Por isso lhe digo: essas flores possuem os perfumes mais suaves. Com certeza lhe agradarão como merece. Eu, com minhas doces e lindas rugas, apesar dos pesares, as pessoas me dizem ser eu uma pessoa abençoada. Por certo!  

Saiba, cheguei até aqui sem pisar ou destratar quem quer que seja. Seja uma pequena formiga, seja um leão faminto, um ser carente de amor e afeto. Se você não está focado nessa espécie de meta que lhe apresento, então me deixe seguir em frente. Todavia, lhe peço, doravante, se você ama as belas flores de um jardim florido, aberto em quimeras, guarde para si. Ponha num cantinho oculto bem lá no fundo do seu coração, antes que ele se abra em solidão imensuravelmente sem volta.
 
Não precisa se fazer faceiro falando para o mundo ao seu redor que não gosta das rugas encontradas em meio a um vendaval de pequenos caprichos. Onde somente você vai encontrar sinceridade, e muito gostar. Um gostar intenso, sentido e profundo. Feliz, eu digo, perco meu brilho, mas não quero ser para você uma em muitas que você brincou e desprezou. Posso não ser jovem, bela, formosa, saltitante, mas meu coração é frágil. Débil, raquítico, tênue, inválido e adinâmico. Como uma folha solta, livre... Sem rumo, autônoma... Desprendida... Perdida em meio ao sabor árido do vento...
 

Fonte:
Texto enviado por Aparecido Raimundo de Souza (Vila Velha/ES)

2 comentários:

Aparecido Raimundo de Souza disse...

Essa moça vai longe. Escreve bem, tem carisma com as palavras. Falta somente a oportunidade de mostrar seu trabalho.
Parabéns ao site "Singrando Horizontes" e ao seu mentor, J. Feldman, pela abertura da porta que, certamente levara a autora a sair por ele, pegar a Estrada da vida e viajar por caminhos e sendas que nunca foram abertos.
Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo.

Carla Rejane disse...

Obrigado Aparecido pelas lindas palavras. Faz com que eu continue seguindo em frente com minhas escritas. Pra mim é uma honra receber comentário no meu texto de um escritor maravilhoso como você. Obrigado a J Feldmann pela oportunidade cedida no site " Singrando Horizontes" Parabéns pelo mesmo.