segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Auta de Souza (Poemas Escolhidos) – 4

CARIDADE E PERDÃO

Caridade verdadeira,
em todos os seus caminhos,
quando oferece uma rosa
sabe tirar os espinhos.
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ESQUECE

Repara a terra pobre, humilde e boa,
enlameada ao temporal violento...
A golpes rudes de granizo e vento,
olvida em paz a injúria que a magoa.

Depois, a vida tece-lhe a coroa
de pétalas luzindo ao firmamento...
E, feliz ante o mundo desatento,
mais se embeleza quanto mais perdoa.

Assim também, esquece o lodo e a ofensa.
Que a tormenta de trevas te não vença
a nobreza dos sonhos redentores!...

Seja o perdão o apoio a que te arrimes,
e desabrocharás em dons sublimes
como a terra insultada ri-se, em flores.
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ESSA MIGALHA

No reino de teu lar em paz celeste,
repara quantas sobras de fartura!...
O pão dormido que ninguém procura,
o trapo humilde que não mais se veste...

Do que gastaste, tudo quanto reste,
arrebata o melhor à varredura
e socorre a aflição e a desventura
que respiram gemendo em noite agreste!...

Teu gesto amigo florirá perfume,
bênção, consolo, providência e lume
na multidão que segue ao desalinho...

E quando o mundo te não mais conforte,
essa leve migalha, além da morte,
fulgirá como estrela em teu caminho.
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GLÓRIA DO BEM

A anônima semente pequenina
atirada por mão piedosa e boa,
parecia dormir no charco, à toa,
sorvendo o sol aos beijos da neblina...

Depois cresceu, abrindo-se em coroa,
árvore nobre a frondejar, divina,
fruto a fazer-se pão que nutre e ensina,
flor que perfuma, tronco que perdoa!...

Assim é o humilde que semeias
pelo espinheiral das dores alheias
que sombra, provação e angústia encerra...

Hoje, singela dádiva perdida,
amanhã será luz, beleza e vida
dulcificando as lágrimas da Terra.
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INSTRUÇÕES DA VIDA

Ofensa, pedrada, espinho,
injúria, maldade ou lama...
Tudo vence no caminho
o coração de quem ama.
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LÁGRIMAS

Benditas sejam, torturando embora,
as lágrimas que a vida transfigura
na fonte generosa, viva e pura
de perfeição e luz para quem chora.

Lírios e estrelas de celeste alvura,
entre as sombras da mágoa que aprimora,
rolam do coração, lembrando a aurora
no imenso caos da imensa noite escura!...

Benditas sejam! Lágrimas divinas
como flores brilhando sobre as ruínas,
que a provação estende, véspera e franca...

Mas, acima da bênção que as alveja,
ante a glória do amor, bendita seja
a mão da caridade que as estanca!
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LEMBRANÇA DE IRMÃ

Ah! minha Nina amada, abelha mansa
da colmeia a que o Mestre se afeiçoa.
Guarda contigo, ovelha humilde e boa,
a saudade no escrínio da esperança!

Alma de arminho, cândida criança,
mensageira do bem que aperfeiçoa,
Deus te enriqueça! Aureole-te a coroa
de eternidade e bem-aventurança!

Flor! – guarde-te o sol do amor divino,
Estrela! – acende o lume peregrino,
Irmã! – toda a ternura te reveste!

Espera e ama! exulta de alegria,
que os teus amados chegarão, um dia,
ao teu templo de luz no Lar Celeste!…

Fonte:
Francisco Cândido Xavier. Auta de Souza. Ebook obtido na Biblioteca Espírita.

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