domingo, 19 de setembro de 2021

Olivaldo Júnior (Revoada de Palavras) 1

MARINA


Do alto de sua janela, Marina regava as plantinhas ao chegar em casa. Moça, pele clara, com um ótimo emprego, parecia se destacar no mercado publicitário a cada dia. Era feliz.

As visitas pipocavam no apartamento de Marina, que adorava receber bem. Havia inclusive notícias de homens e mais homens interessados nela, que parecia levitar nos ares.

Orgulho dos pais, certo dia, não foi trabalhar. Logo ela, que não faltava nunca! Uma amiga desconfiou de seu sumiço, foi até sua casa. Não, a corda não tinha faltado. Silêncio.
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O MENINO E A AURORA SOBRESSALENTE

Para o Henrique

Era um menino que se chamava Henrique. Atendendo ao chamado da natureza, ele cresceu, mas, por dentro, era o mesmo, um menino. Sei que é difícil permanecer menino, quando todas as forças do mundo querem nada menos do que nos retrair e nos tornar cada vez mais duros e insensíveis ao próximo. O próximo, para o Henrique, era o próximo mesmo, o semelhante, aquele que para um pouco para ouvir o próximo, mesmo ausente, distante.


Hoje, esse menino já crescido perdera o pai para o câncer. Hoje o dia está bem triste, cinzento, sem muita luz, nem poesia. Estive há poucos dias com esse amigo, que, conformado com o que o destino reservara ao pai, me sorria, aliás, como sempre fazia. Sorria como se a vida fosse uma luta em que não há vencedor, apenas oponentes, um em cada lado da linha, porém, oponentes que se justapõem, pois se complementam nessa luta diária, constante.

Henrique. Eis o nome do menino que é adulto, posto à prova constantemente pela vida, que é de morte. Não da morte que nos mata com um só golpe, mas da morte que nos enclausura em seu casulo, para que, de dentro dele, possamos voar, tenhamos longas e lepidópteras asas, tão borboleantes quanto a aurora sobressalente que só um menino consegue guardar em suas íris. Que essa aurora sobressaia nos céus do Henrique e de sua família.

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