MARINA
Do
alto de sua janela, Marina regava as plantinhas ao chegar em casa.
Moça, pele clara, com um ótimo emprego, parecia se destacar no mercado
publicitário a cada dia. Era feliz.
As visitas pipocavam no
apartamento de Marina, que adorava receber bem. Havia inclusive notícias
de homens e mais homens interessados nela, que parecia levitar nos
ares.
Orgulho dos pais, certo dia, não foi trabalhar. Logo ela,
que não faltava nunca! Uma amiga desconfiou de seu sumiço, foi até sua
casa. Não, a corda não tinha faltado. Silêncio.
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Para o Henrique
Era um menino que se chamava Henrique. Atendendo ao chamado da natureza, ele cresceu, mas, por dentro, era o mesmo, um menino. Sei que é difícil permanecer menino, quando todas as forças do mundo querem nada menos do que nos retrair e nos tornar cada vez mais duros e insensíveis ao próximo. O próximo, para o Henrique, era o próximo mesmo, o semelhante, aquele que para um pouco para ouvir o próximo, mesmo ausente, distante.
Hoje,
esse menino já crescido perdera o pai para o câncer. Hoje o dia está
bem triste, cinzento, sem muita luz, nem poesia. Estive há poucos dias
com esse amigo, que, conformado com o que o destino reservara ao pai, me
sorria, aliás, como sempre fazia. Sorria como se a vida fosse uma luta
em que não há vencedor, apenas oponentes, um em cada lado da linha,
porém, oponentes que se justapõem, pois se complementam nessa luta
diária, constante.
Henrique. Eis o nome do menino que é adulto,
posto à prova constantemente pela vida, que é de morte. Não da morte que
nos mata com um só golpe, mas da morte que nos enclausura em seu
casulo, para que, de dentro dele, possamos voar, tenhamos longas e
lepidópteras asas, tão borboleantes quanto a aurora sobressalente que só
um menino consegue guardar em suas íris. Que essa aurora sobressaia nos
céus do Henrique e de sua família.
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