Atualmente, Marcondes abandonou a vida de rodoviário e está trabalhando no comércio. Vários podem ser os motivos, e quem sabe um deles é o que passaremos a relatar...
Jovem despachante, Marcondes iniciou sua carreira como cobrador, na empresa Ingá. Moleque malandro, desenrolado, gente fina mas também valente, "brabo" que só ele.
Efetivo no ponto em frente à estação das Barcas, no centro de Niterói, nos finais de semana ele costumava ser escalado para trabalhar do outro lado da rua, em frente à loja Leader, próximo ao Plaza Shopping. Não me pergunte como, mas nessas vezes Marcondes aparecia por lá com um banquinho de madeira, que era pra poder ficar sentado quando houvesse uma trégua na frenética movimentação de ônibus.
Posicionando seu banquinho tranquilamente encostado na parede da loja, nosso amigo costumava pôr sua mochila embaixo do mesmo, pois não havia mais onde guardá-la e ele não queria ficar com a mesma pendurada nas costas, durante oito longas horas. No mais, ali era prático e fácil de vigiar, pois ele só precisava levantar-se, ir até o veículo da vez e marcar a ficha, a apenas uns quatro metros do tal banquinho.
Certo dia, durante uma dessas marcações, um homem, já bastante idoso, viu o banco de apoio desocupado e simplesmente sentou-se nele. Marcondes percebeu, mas resolveu ficar quieto, pois isso acontecia às vezes, e geralmente com idosos: o cidadão ou cidadã via um banco solitário, parado no meio do nada, e já devia imaginar que era público, pois ia logo sentando-se, como se estivesse no sofá de casa. Nosso amigo então permaneceu em pé, e seguiu com as atividades. Marca carro daqui, marca carro dali, e nada de o velhinho levantar-se. Entretido com o trabalho, Marcondes esqueceu-se momentaneamente do velhote.
De repente, sentiu uma pontada, uma intuição latejando lá no fundo de seu ser, mandando observar o tal banquinho. Ao olhar, percebeu que o banco estava lá, mas agora vazio. "Ufa!", pensou nosso amigo, já cansado de ficar em pé. Mas sua alegria durou pouco; a parte abaixo do banco também estava 'vazia': sua mochila havia desaparecido!
Naquela região, num tremendo domingo, as ruas ficavam bastante desertas. O valente do Marcondes passou a vista para todos os lados, como uma águia, quando viu, a certa distância, o velhote, meio capenga, correndo e levando sua mochila. Imagine a fúria do nosso despachante!
Dando uma forte arrancada, já de punhos fechados, certo de que alcançaria rapidamente o ancião larápio, nosso herói sentiu algo atravancando o seu avanço: sua calça nova e da melhor qualidade, que ele comprara recentemente... Acontece que nosso amigo, vaidoso, mandara uma costureira apertar bem as pernas da calça, para que ficassem bem justinhas e sexys. Só que ficaram tão, mas tão justas, que impediam o valente de correr!
Imagine a tristeza do bruto, preso em suas calças apertadas, vendo o coroa capenga fugindo com sua mochila, sozinho, em plena luz do dia... e ele sem poder alcançá-lo. Por sorte do nosso amigo, a cidade estava tão deserta àquela hora que praticamente nem testemunhas havia para presenciar aquele ultraje, aquela humilhação de nosso guerreiro gladiador e sua calça de cantor sertanejo...
E assim nosso herói, mano sagaz, malandro bom de briga mestrado e doutorado na faculdade da favela, dentro dela, seus tesouros: três moedas de um real, uma penca de bananas d'água (era o almoço do bruto), uma garrafa de água (quente), um boné encardido da Cyclone e dois cuecões samba-canção sujos, que era tudo o que ele tinha...
Jovem despachante, Marcondes iniciou sua carreira como cobrador, na empresa Ingá. Moleque malandro, desenrolado, gente fina mas também valente, "brabo" que só ele.
Efetivo no ponto em frente à estação das Barcas, no centro de Niterói, nos finais de semana ele costumava ser escalado para trabalhar do outro lado da rua, em frente à loja Leader, próximo ao Plaza Shopping. Não me pergunte como, mas nessas vezes Marcondes aparecia por lá com um banquinho de madeira, que era pra poder ficar sentado quando houvesse uma trégua na frenética movimentação de ônibus.
Posicionando seu banquinho tranquilamente encostado na parede da loja, nosso amigo costumava pôr sua mochila embaixo do mesmo, pois não havia mais onde guardá-la e ele não queria ficar com a mesma pendurada nas costas, durante oito longas horas. No mais, ali era prático e fácil de vigiar, pois ele só precisava levantar-se, ir até o veículo da vez e marcar a ficha, a apenas uns quatro metros do tal banquinho.
Certo dia, durante uma dessas marcações, um homem, já bastante idoso, viu o banco de apoio desocupado e simplesmente sentou-se nele. Marcondes percebeu, mas resolveu ficar quieto, pois isso acontecia às vezes, e geralmente com idosos: o cidadão ou cidadã via um banco solitário, parado no meio do nada, e já devia imaginar que era público, pois ia logo sentando-se, como se estivesse no sofá de casa. Nosso amigo então permaneceu em pé, e seguiu com as atividades. Marca carro daqui, marca carro dali, e nada de o velhinho levantar-se. Entretido com o trabalho, Marcondes esqueceu-se momentaneamente do velhote.
De repente, sentiu uma pontada, uma intuição latejando lá no fundo de seu ser, mandando observar o tal banquinho. Ao olhar, percebeu que o banco estava lá, mas agora vazio. "Ufa!", pensou nosso amigo, já cansado de ficar em pé. Mas sua alegria durou pouco; a parte abaixo do banco também estava 'vazia': sua mochila havia desaparecido!
Naquela região, num tremendo domingo, as ruas ficavam bastante desertas. O valente do Marcondes passou a vista para todos os lados, como uma águia, quando viu, a certa distância, o velhote, meio capenga, correndo e levando sua mochila. Imagine a fúria do nosso despachante!
Dando uma forte arrancada, já de punhos fechados, certo de que alcançaria rapidamente o ancião larápio, nosso herói sentiu algo atravancando o seu avanço: sua calça nova e da melhor qualidade, que ele comprara recentemente... Acontece que nosso amigo, vaidoso, mandara uma costureira apertar bem as pernas da calça, para que ficassem bem justinhas e sexys. Só que ficaram tão, mas tão justas, que impediam o valente de correr!
Imagine a tristeza do bruto, preso em suas calças apertadas, vendo o coroa capenga fugindo com sua mochila, sozinho, em plena luz do dia... e ele sem poder alcançá-lo. Por sorte do nosso amigo, a cidade estava tão deserta àquela hora que praticamente nem testemunhas havia para presenciar aquele ultraje, aquela humilhação de nosso guerreiro gladiador e sua calça de cantor sertanejo...
E assim nosso herói, mano sagaz, malandro bom de briga mestrado e doutorado na faculdade da favela, dentro dela, seus tesouros: três moedas de um real, uma penca de bananas d'água (era o almoço do bruto), uma garrafa de água (quente), um boné encardido da Cyclone e dois cuecões samba-canção sujos, que era tudo o que ele tinha...
Fonte:
Ron Letta (Sammis Reachers). Rodorisos: histórias hilariantes do dia-a-dia dos Rodoviários.
São Gonçalo: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.
Ron Letta (Sammis Reachers). Rodorisos: histórias hilariantes do dia-a-dia dos Rodoviários.
São Gonçalo: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.
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