segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Luiz Damo (As Faces da Trova) – 6 –

A dor que o teu peito invade
muitas vezes, tão voraz,
pode até ser de saudade,
ou só carência de paz.
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A gota d'água preciosa
que da torneira extravasa,
pode tornar-se onerosa
ao faltar em nossa casa.
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As águas brotam das fontes
seguem rumos diferentes,
sulcam novos horizontes
sem deixar de ser 'correntes'.
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À vida, podes dizer:
que ao viver falta emoção.
Mas nada deves fazer
no furor da comoção.
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Cenas de fraternidade
são de curta permanência,
porém as de atrocidade,
se repetem com frequência.
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Com a proteção de Deus
que jamais nos deixa a sós,
busquemos juntar os 'eus'
pra fundi-los num só 'nós'.
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Dentre as pedras do caminho
pode uma planta crescer,
se tratada com carinho
dá o fruto após florescer.
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Diz o doente, sem dor,
vendo afastar-se o ataúde,
muito obrigado, 'doutor'!
Por devolver-me a saúde...
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Dos caminhos percorridos
com afinco, pelos pais,
também podem ser seguidos
pelos filhos e alguém mais.
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Esta vida é muito breve
para não ser respeitada,
destrui-la. quem se atreve,
não tem outra a ser trocada.
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Faz frio e nos descampados,
surge à noite a alva geada,
são cristais esparramados,
pelas mãos da madrugada.
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Imigrantes, fostes bravos,
audazes e sonhadores,
senhores e nunca escravos,
de ideais, desbravadores.
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Não deixes que pelos dedos
deslize a felicidade.
Mas desvela seus segredos,
vive-a com profundidade...
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Não tem presente melhor
que a mão firme de um amigo,
quando surge, ao derredor,
some a sombra do perigo.
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Nas linhas da vida, leio,
essências tão sapienciais,
são lições, nas quais enleio,
meus passos existenciais.
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Na vida, ninguém acabe,
refém de falsos projetos,
mas mostre a todos que sabe,
transformá-los em concretos.
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Nos arbustos do presente
Inda a ave canta e se aninha,
busca um amanhã decente
no calor que ontem não tinha.
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Nunca invejes quem trabalha
faze o mesmo, se puderes,
vencerás qualquer muralha
e obterás o que mais queres.
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O pecador segue impune
se achando imune ao pecado,
julga errado e por ciúme
pune sem ser condenado.
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O sino do campanário
quando toca nos ensina,
tal hino num relicário
ecoando a voz divina.
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Para a queda em pleno ar
há um paraquedas normal,
pode na ausência levar,
a um acidente fatal.
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Parcas nuvens, fim de tarde,
remanso crepuscular,
folhas secas, facho que arde,
sob o universo estelar.
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Quando o pobre se lamenta
demonstra a sorte faltar
e a esperança que alimenta
é não mais se lamentar.
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Se algo não lhe traz saudade
de um ontem pouco distante,
sem qualquer temeridade,
é porque não foi marcante.
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Se a vida for pouco doce
e ás vezes, demais azeda,
mesmo que amarga não fosse
enfrente-a, vença e não ceda.
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Se a tristeza, a paz estanca,
tendo o pranto como herança,
faz do sorriso a alavanca
e mude a dor em bonança.
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Tão breve a vida transcorre
sob as leis da natureza,
dá o fruto à planta que morre
não sem tirar-lhe a beleza.
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Triste, a dor n'alma se apruma
aniquila o pensamento.
se alegre, não resta alguma,
cicatriz do sofrimento.
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Uma luz, meu ser invade
e ilumina os passos meus,
sua luminosidade
faz-me ver a mão de Deus.
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Verte à velhice, a saudade,
das semeaduras de outrora,
são chuvas que à mocidade
regam as plantas do agora.

Fonte:
Luiz Damo. As faces da trova. Caxias do Sul/RS: Ed. Do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

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