sábado, 18 de setembro de 2021

Sammis Reachers (In box)

Lá se vai uma carangada de anos.

Foi dentro do antigo supermercado Max Box, no Fonseca, em Niterói.

Tudo que nasce avança em direção a seu ápice. E descai. E morre. Ali foi o ápice dele. A aceleração de seus processos. Seu arroubo ao apogeu. Numa fila de supermercado. Num dia cinza de outono quente.

Era funcionário do Detran. Aposentadoria em 12 anos.

Abriu os braços e gritou. Aqueles gritos primais, sabe, que ensinam em terapias. Depois de ter cativado a atenção de todos, sacou dois revólveres. Como se ensina nos filmes. Pessoas correram, ele fez mira. Fez e fez e deflagrou... pânico em donas de casa, estudantes comedores de Trakinas e velhotes que vão ao supermercado apenas para comprar um real de pão francês e filar um cafezinho.

Foi rendido por um segurança mais ousado e sangue-frio. Nenhum dos dois disparou. Nenhum dos que podiam, entendeu.

Puxou dois anos no Galpão da Quinta, o Presídio Evaristo de Moraes. Uma semana depois de ganhar as ruas, ao sair de um churrasco de aniversário do filho, foi atropelado por uma moto.

De sua casa seu filho herdou, além das 168 fitas VHS de westerns yankees, chicanos ou spaguettis, oitenta e sete contumazes revólveres, que, fora os dois apreendidos no mercado, formavam a coleção de revólveres de Geremias, “a maior de São Gonçalo e a segunda no Estado”.

Era meu amigo, trabalhamos juntos na antiga CTC de Leonel Brizola.

Morreu sem nunca ter dado um tiro. O Geremias.

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