O pior da espera não é a espera em si, já que é através do tempo transcorrido em esperança que faz com que a chegada do tempo esperado seja o tempo perfeito. O difícil não é esperar, e sim, ver a omissão moldar a espera e dela fazer o que bem quer. Por isso, não espere. Faça-a!
Silêncio é omissão, é indiferença. E ambas as coisas são irmãs da fuga. Não da fuga de uma estrada, mas da fuga da própria alma. As pessoas veem o mal tomando conta de tudo, possuem a capacidade de reclamar, mas desprovidos de coragem, nada fazem além de repetir a reclamação. Não querem se expor.
Com frequência, sentada em frente à porta de minha casa desfrutando de minha companhia, ao universo repito a indagação: afinal, o que é verdade e o que é mentira no mundo em que vivemos? Às vezes, pagamos pra ver, mas nem sempre vemos o que desejamos. Raras são as ocasiões em que a vida nos concede a certeza de que estamos sendo protegidos, admirados, amados ou fatalmente ridicularizados por aqueles que, de alguma ou de muitas formas nos dirigimos. Hoje, tudo parece duvidoso. E certamente, amanhã a dúvida permanecerá ainda mais viva.
Apesar dos pesares, sigo aqui, firme, tentando sobreviver a essa torre de Babel, lembrando que a palavra babel significa confusão.
Em meio à multidão, desorientada, minha alma se entristece por não conseguir distinguir tantas verdades e inverdades misturadas. Ora o povo diz, depois desdiz, depois diz de novo e, por fim, não lembra o que foi dito. As máscaras até caem, mas logo são repostas.
A paz se mudou do mundo. Se é que algum dia ela esteve por aqui. Como certa vez disse Fernando Pessoa: “Extraviamo-nos a tal ponto que devemos estar no bom caminho”. Isso é, chegamos ao fim de tudo para recomeçarmos. Só que a maioria de nós, não sabe disso.
Na tentativa de sobreviver a esse caos, mantenho meu corpo aqui, mas todos os meus sentidos estão em outras esferas.
A minha visão continua a contemplar o que é belo. Meu olhar segue o brilho do sol. Meus ouvidos só escutam os conselhos das plantas e a poesia das flores. Meu paladar só está para o gosto das maçãs, das avelãs, das ambrosias... Meu olfato repele os atores do ódio, esse que tanto inflama a atmosfera: só quer saber do cheiro das virtudes.
E por fim, em rios amorosos, mergulho meu tato, e assim defendo minha pele e meu sentir da ira dos apedrejadores e dos seus toques cheios de espinhos.
Estou aqui sem estar... E sei que isso é o suficiente para ser chamada de louca.
Essa crise não vai passar, as pessoas não vão mudar, as incertezas não vão sumir. Os silêncios ensurdecedores não vão dar trégua. Ninguém ouve mais ninguém! Tudo chegou ao fim. E até que tudo e todos se reconstruam novamente, vai levar tempo. Muito tempo. Mesmo fazendo barulho todos estão mortos a se sacudirem em estreitos e grandes túmulos cheios de gavetas e frestas. Todos estão mortos até que voltem a renascer, menos os loucos que continuam a rir.
Fonte:
Texto enviado pela autora.
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