sábado, 11 de março de 2023

Fabiane Braga Lima (Perdoar é necessário)

Encarei João Henrique profundamente nos olhos, eu estava nervosa ao extremo. Como de costume ele se escondeu em si. Vou dar-lhe uns bons tapas na cara, pensei. Ele se envolver com uma senhora de setenta anos? Não! Jamais ela poderia manter um caso com um adolescente. Logo o meu filho querido, que o criei como um príncipe.

— Deixe pra lá essa história, meu filho! — falei para ele, me referindo ao caso com Odete. E assim João Henrique, se afastou da mulher idosa que ele se envolveu. Mas me iludi, pois passaram uns dias e lá estava ele de caso com a libidinosa Odete. Eu soube por vias tortas, eu pressenti uma nuvem negra se formando no horizonte.

— Onde estava João Henrique? — perguntei desesperada, fazia um bom tempo que ele sairá de casa e eu não soube nada dele. Mesmo sabendo onde estava e o que estava fazendo.

— Acho que vai gostar, mamãezinha querida, e tenho uma surpresa para a senhora. — respondeu-me com um sorriso macabro, gelei o meu coração àquela hora.

— Parece que você arrumou uma namoradinha. — falei para o meu filho, mais uma vez me referindo do caso dele com Odete.

— Sim, mamãe arrumei uma namoradinha, que me ama e a amo muito! — achei estranho o tom de voz de João Henrique. Ele me deu as costas e foi para o quarto.

Ridículo, um garoto de dezessete anos, namorando uma senhora de setenta anos, isto tem um nome que é pedofilia. Agora, sim, encontrei a palavra certa, pedofilia.

Preocupada, com o meu filho, fui conversar com João Henrique. Urrei e bati na porta do quarto dele, esmurrei na verdade, até eu me lembrar que tinha a chave do quarto, no meu bolso. Ao abrir a porta me deparei com uma cena inusitada, os encontrei nus, João Henrique e Odete. Gelei e engoli em seco.

Depois só me lembro do meu vizinho, o Bastos, o policial militar me segurando, provavelmente, ele preocupado com os barulhos que vinham da minha casa, veio ver o que estava acontecendo. E só me lembro dos risos incontidos de João Henrique e de Bastos. Afinal, qual o motivo das risadas de ambos? Ainda no quarto do meu filho, com aquela cena obscena.

— Mamãe, não está bem, precisa urgentemente de um psiquiatra! — escutei o meu filho falar, parecia que ele estava a quilômetros de distâncias de mim.

Fiquei enfurecida, peguei o meu filho pelo cabelo, jogando-o contra a parede. Gritei o que Odete estava fazendo na minha casa.

— Calma, Margarete! A senhora não está bem, a dona Odete faleceu há cinco anos. — disse Bastos ainda me segurando pelos ombros.

— Mentira! — gritei a plenos pulmões.

— A senhora se lembra que vocês viviam discutiram por nada! E ela lhe pediu perdão, mas a senhora nunca a perdoou. — disse o policial Bastos em tom de conciliação.

De repente, me lembrei do trágico acidente de trânsito que vitimou Odete e o marido dela. Eu me lembrei da cena de Odete, tranquila, podando as rosas vermelhas no jardim bem cuidado do quintal da casa dela. Lembrei da cena de nós duas brigando, em vias de fato e os vizinhos vindos nos separar. Lembrei-me, também, do pedido de desculpas, de dona Odete e do perdão que eu a neguei.

O motivo de vê-la, em todos os lugares, foi porque a mágoa e o ódio permaneceram no meu âmago mais que profundo. E acredito que ela sempre estará presente, se não houver o meu perdão! Construí o meu próprio sepulcro árduo de um passado que não passou. Eu preciso buscar ajuda, ou dona Odete, ainda estará viva em minha memória. Perdoar é necessário!

Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa.

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