sexta-feira, 3 de março de 2023

Lairton Trovão de Andrade (Enxurrada de Poemas) – III – Madrigais

GEMA DE AMOR
"O seu fruto é doce à minha boca." (Ct. 2.3)

Cálida gema, feita de amor,
Quero sentir todo o seu sabor;
Vou dar-lhe beijos apaixonados,
E você, seus lábios abrasados.

Você é doce - feita de mel,
Real geleia - pedaço do céu;
Quanta delícia no saborear,
Que bom se o tempo não mais passar!

Você está trêmula de emoção,
Sinto o pulsar do seu coração...
Perdi o controle, perdi meu senso
Por este amor de prazer imenso.

O que acontece? - Você suspira!
O que é isso? - Você delira!
Eu estou suando - quanto calor!
Estou feliz... Obrigado, amor!
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SE...
''Põe-me como um selo sobre o teu coração, 
porque o amor é forte como a morte." (Ct.8.6)

Se fossem apagados meus olhos,
Se a língua não mais eu movesse,
Se a voz que acalenta morresse,
Sem versos pra te comover...
Se o meu coração não pulsasse,
Se a vida a existência deixasse,
Seria tristeza em teu ser.

Se não me fluíssem as letras,
Se o cérebro aceso apagasse,
Não mais a emoção me tocasse,
Sem lábios de amor pra aquecer-te,
Sem nada de odor pra sonhar,
Sem mãos para mãos encontrar,
Então... como, ainda, querer-te?I

Se ouvidos não mais te ouvissem,
Se o ser que há em mim terminasse,
Se o néctar não mais eu tomasse,
Se nada, mais nada, a rimar,
Se ausente me fosse o carinho
- Passado saudoso em meu ninho,
Com que poderia te amar?

Se a Lua eu não mais contemplasse,
Se a lira calasse pra mim,
Se a noite me fosse sem fim,
Se tudo esvaísse em meu ser,
Minh'aura, sozinha, apagada,
Saudade esmagando meu nada,
Seria só dor teu viver.

Ainda que assim ocorresse,
Teria a memória em teu nome;
E o tempo que o tempo consome,
Iria seu ciclo encerrar;
Na vida do além-infinito
Teu ser ser-me-ia bendito,
Pra sempre eu iria te amar.

Ainda que tudo passasse
E o corpo pro nada partindo,
Minh'alma só luz refletindo
- Reflexo de um novo luar;
Seria esplendor de visão
- Eterna, infinita paixão:
Tu' alma poder contemplar,

Ainda que eu fosse só cinza,
Teria uma flor neste mundo
- Semente de amor tão profundo,
Espírito oculto a me amar;
Além, muito além, com fulgor,
Há forma, há pureza, há amor:
Tu' alma eu iria abraçar.
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SÚPLICAS
"Enquanto o rei descansa em seu divã, 
meu nardo exala seu perfume." (Ct. 1.12)

Não me ames jamais
Pela magia dos meus olhos;
Que a luz do meu olhar
Não te seja a tramontana,
A guiar teus passos
Rumo ao norte da felicidade.

Não contemples nunca
As pétalas do meu sorriso,
Com visões de rubros pomos
De um eterno outono.
Que o timbre sonoro
De aveludada voz
Não seja sereia"
A te encantar
Em visionário céu.

Jamais faças teu ninho
Nos frágeis caracóis
De cabelo algum.
Não te apaixones nunca
Por um rosto, apenas,
Onde o tempo, ainda,
Não deixou sua marca.

Que a postura artística
De um corpo atlético
Te seja descolorido sonho.
Esqueça, em tempo,
Do artificial perfume
Que te trouxe êxtases.

Não me ames jamais
Pelo tom do belo,
Que me julgas ter,
Mas que nunca tive.
Esqueça a imponência
Deste meu púlpito,
Pois tudo está passando
Com o passar das horas...

E tudo o que passa
É vaidade,
Vaidade de um tempo fortuito.
Não me ames, então,
Pelo que se transforma
E passa...
E, no tempo, morre.

Contudo,
Ama-me,
Ama-me com força irresistível!
Ama-me pela bondade
Que, porventura,
Exista em mim.
Ama-me pela felicidade
Do teu ser
E pela harmonia
Do teu viver.
Ama-me pelo caráter
Que, aos poucos,
O tempo
Foi-me edificando.
Ama-me pelo que sou
No meu espírito.
Ama-me pela essência
Da minha alma.

Então,
O teu amor
Será eterno,
E terás
Razões eternas
Para me amar
Eternamente...

Fonte:
Enviado pelo poeta.
Lairton Trovão de Andrade. Madrigais: poesias românticas. Londrina/PR: Ed. Altha Print, 2005.

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