segunda-feira, 13 de março de 2023

Professor Garcia (Reflexões em trovas) 21


A chuva em seu acalanto,
não causa ofensa ao sertão!
Mata a sede e acaba o pranto
dos olhos tristes do chão!
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Ainda espero o teu regresso,
se é que ainda esperas por mim;
pedir que voltes, não peço,
mas te espero até o fim!
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À luz da velha candeia,
uma sombra faz trapaça;
é a solidão que passeia,
enquanto a noite não passa!
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A noite, as sombras passando,
e uma delas, na verdade,
é a da saudade embalando
a sombra de outra saudade!
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Ao lembrar dos tempos idos,
na vida, quanta lembrança!...
Contando os sonhos perdidos,
vi meus sonhos de criança!
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A vida é uma aquarela
pintada de muitas cores;
na moldura, a cor mais bela,
é a cor da estação das flores!
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A vida, com seus desvãos,
dá-me alguns sorrisos francos,
com os netos, passando as mãos
nestes meus cabelos brancos!
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A voz que me rouba a calma
nas horas de solidão,
é a voz de alguém, sem ter alma,
num corpo sem coração!
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Busco a esmo, mundo afora,
rastros de um velho andarilho,
que se fez raio de aurora
no coração de seu filho!
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Cercada de lenda e encanto,
teu poço nunca secou...
Meu Caicó canta o canto
que o Seridó lhe ensinou!
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Creia amigo! Amigo, creia,
que nunca estará sozinho;
quem crê na fé que semeia
forra de luz seu caminho!
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Da infância, nunca me esqueço;
pois, guardo com fortes laços,
traços do mesmo endereço
que viu meus primeiros passos!
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Esses teus lábios, menina,
lembram-me os lábios da flor,
na cor rubra mais divina
da embriaguez de um terno amor!
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Eu sinto, pai, nos meus ais,
nossa união, em fortes elos,
nas impressões digitais
impressas nos teus chinelos!!!
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Grita poeta, e o medo vence-o,
que a tua voz, que é teu grito...
Rompe os grilhões do silêncio
e abre as portas do infinito!
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Mesmo envolto em densas brumas,
se o mar, zangado se alteia,
deixa com beijos de espumas
rugas, de espumas na areia!
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Meu ninho, meu velho ninho,
onde a ternura se espalha,
vive no mesmo cantinho
e é lá, que o amor se agasalha!
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Minha musa inspiradora,
a tua beleza é tanta,
que se fores pecadora,
são teus pecados de santa!
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Não quero o bem que se alcança
com fama e falsos lauréis;
mas manter viva a esperança
ó Pai, que tenho aos teus pés!
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Na solidão da clausura
reza um monge solitário,
buscando a paz, na ternura
das contas do seu rosário!
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O amor, envenena e acalma;
mas, se o amor, por amor clama,
nem parece que tem alma
no corpo do amor, que se ama!
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Olhando a nuvem no céu,
eu deduzo por exemplo,
que a nuvem vagando ao léu,
protege o teto do templo!
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O Sol, cai numa armadilha
da noite, sábia senhora,
para que a luz andarilha
durma até o romper da aurora!
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Pela fé, tudo se alcança
e, a velhice me enternece,
que o poeta, é sempre criança
e criança, nunca envelhece!
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Se a ganância não tem cofre,
eu não entendo o mister,
daquele que tanto sofre,
por ter bem mais do que quer!
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Se a primavera passou,
o outono, um pouco desfez...
Vou tentar com o que restou,
ser primavera outra vez!
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Sem saber o que se alcança,
nem na vida, o que me espera...
Vou semeando esperança
nas cinzas da primavera!
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Sem ter certeza de nada,
sem saber o que me espera...
Vou semeando na estrada
sementes de primavera!
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Se o teu olhar, não me acalma,
nem prendo mais tua voz...
Sinto que há mãos em minha alma
puxando os laços dos nós!
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Se tu, não foste o melhor,
teus sonhos não foram vãos!...
Pois, sinto, pai, teu suor,
no suor de minhas mãos!
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Toda tarde, um velho sino,
nas notas de um si bemol,
desperta a dor do destino
da agonia do arrebol!
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Viver de amor, vivem poucos,
mas iludido, eu me assumo;
é que esses meus sonhos loucos,
são meus sonhos de consumo!

Fonte:
Enviado pelo trovador.
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.

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