quarta-feira, 8 de março de 2023

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LII


 JUNTINHOS

MOTE:
Na maior das concessões
Deus, que é Pai, bem poderia
parar nossos corações
juntinhos, no mesmo dia.
Almerinda Liporage
Rio de Janeiro/RJ

GLOSA:
Na maior das concessões
eu sonho, pedindo assim,
num misturar de emoções,
termos juntos, nosso fim!

Sendo amor e só bondade,
Deus, que é Pai, bem poderia
não nos deixar na saudade,
ou em triste nostalgia!

Que Deus, num mar de ilusões,
pudesse fazer parar,
parar nossos corações
sem nenhum de nós chorar!

Nosso dia de morrer
seria só de alegria,
se parassem de bater,
juntinhos, no mesmo dia.
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PEDRAS ESPECIAIS

MOTE:
Na calçada, sob a lua,
conheço o teu caminhar;
que as pedras da minha rua
têm alma e sabem falar!
Amália Max
Ponta Grossa/PR, 1929 - 2014

GLOSA:
Na calçada, sob a lua,
consigo escutar teus passos,
quando minha alma tão nua
quer vestir os teus abraços!

Por eu te amar, tanto, assim,
conheço o teu caminhar,
pressinto que vens a mim
e acordo do meu sonhar!

Minha emoção acentua
o que escuto com carinho:
que as pedras da minha rua
encantam o meu caminho!

Com elas converso, então,
quando fico a te esperar,
pois elas têm coração,
têm alma e sabem falar!
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OUTONO DE SONHOS

MOTE:
Folhas mortas, no abandono,
numa tarde esmaecida,
vêm lembrar o triste outono
dos sonhos de minha vida.
Cidoca da Silva Velho
São Luís do Paratinga/SP, 1920 – 2015, Jundiaí/SP

GLOSA:
Folhas mortas, no abandono,
rolando pelas calçadas
parecem noites sem sono
chorando nas madrugadas!

Tudo se torna tão triste
numa tarde esmaecida,
parece que nada existe,
que nem existe mais vida!

As tardes – papel carbono
da minha desilusão,
vêm lembrar o triste outono
que chega ao meu coração!

Sigo só em meu caminho
com a esperança perdida,
com saudades do carinho
dos sonhos de minha vida.
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SOLDADO DO MAR...

MOTE:
Nenhum barco... O mar, parado.
Noite... Silêncio... Abandono,
e o velho farol cansado
parece piscar de sono...
Durval Mendonça
Rio de Janeiro, 1906 – 2001

GLOSA:
Nenhum barco... O mar, parado
feito um espelho do céu,
mar de estrelas salpicado
e uma doce brisa ao léu!

As estrelas vão sumindo...
Noite... Silêncio... Abandono,
muitos medos vão surgindo
na negra noite de outono!

Mais parecendo um soldado
que vai surgindo das águas,
e o velho farol cansado
chora, então, as suas mágoas!

E esse soldado do mar
ereto, lindo em seu trono
sem ter ninguém para amar,
parece piscar de sono…
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TEUS OLHOS COR DE JADE

MOTE:
Os teus olhos cor de jade
de uma ternura sem lei
foram feitos da saudade
de um mundo que eu inventei!
Humberto Del Maestro
Serra/ES

GLOSA:
Os teus olhos cor de jade
são estranhos, diferentes,
são quase uma raridade,
são madrugadas... poentes!

Refletem toda a ternura,
de uma ternura sem lei
e é nessa doce brandura
que, então, eu me sinto, o rei!

Teus olhos - tranquilidade,
que me fitam com ardor,
foram feitos da saudade
que eu sinto do nosso amor!

São cor de jade, ofuscantes,
esses olhos que eu amei,
são dois raros diamantes
de um mundo que eu inventei!

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas XXI. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Outubro de 2004.

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