O SUJEITO ENTRA no coletivo lotado usando a porta de saída. Traz nas mãos uma caixinha de isopor suja, com algumas moedinhas dentro. Antes de começar a falar, ou melhor, a pedir, chacoalha o recipiente que faz um barulho peculiar de pratinhas se chocando uma com as outras. Dá, então, início ao seu rosário de queixumes. Berra:
“Boa noite, meus caros irmãos. Como podem ver, estou aqui pedindo a ajuda de vocês para comprar alimentos para minha família. Tenho mulher, três filhos menores, a minha do meio, sofre de bronquite asmática crônica e eu não tenho recursos nem condições de chegar na farmácia e comprar os medicamentos que o médico receitou”.
Faz uma pausa breve. E segue, aos gritos:
“Minha esposa era empregada doméstica, lavava, passava, e cozinhava para um ricaço que morava numa mansão lá para as bandas de Água de Cima. Como moramos longe e não dava para ela ir e voltar todos os dias, ela dormia no emprego. Ontem, coitada, ela foi mandada embora porque o patrão dela, um sujeito safado, pilantra, vinha, há tempos, fazendo “propostas indecente”, dando cantadas e mais cantadas”.
Nesse momento, começa a chorar:
“Queria abusar dela, de qualquer jeito e para isso, vivia pedindo para minha esposa ser boazinha e se deitar com ele. Em troca, meus irmãos, ele disse que daria dinheiro, roupas e joias. Como minha esposa é crente, e temente à Deus, ela veio enrolando o desgraçado. Veio engabelando dia após dia, semana após semana. Sexta-feira agora, o infeliz chegou mais cedo e resolveu passar a “carroça adiante dos burros.
“Aproveitando que a sua mulher ainda não havia chegado da escola, onde leciona inglês, o calhorda partiu para cima de minha esposa, rasgou as vestes dela, e arrastou a indefesa para um dos banheiros. Minha esposa começou a gritar, e, graças a Deus, o endemoniado largou dela. Minha querida esposa se ajoelhou e orou.
“No final da oração, meus irmãos, ela disse estas palavras: ‘Vade retro, Satanás’ e, graças ao bom Deus, misericordioso, um milagre aconteceu. O tinhoso passou a mão nas chaves de seu carro e foi pra rua”.
Faz uma nova pausa e enxugou as lágrimas:
“Quando a patroa chegou, minha esposa relatou o ocorrido, mas, a mulher, disse que ela estava mentindo, acertou os ‘dias trabalhado’ e mandou ela embora. Por isto, meus amados irmãos, ao invés de eu estar roubando, ou assaltando, fumando maconha ou pedra de craque, eu estou aqui pedindo aos irmãos, se Deus tocar nos “seus coração” e puder me ajudar com dez, vinte, cinquenta centavos eu ficarei agradecido. Você que é pai, você que é mãe, sabe como é difícil quando “os filho” da gente pede um pão pra comer e a dispensa está vazia, sem nada.
“Me ajudem, irmãos. Quero deixar um versículo para que meditem e através dele Deus abençoe a vocês e toque seu coração. Provérbios, capítulo 27, versículo 7, diz assim: ‘quem está com o estômago cheio rejeita até o mel; mas, para quem está com fome, até a comida amarga é doce’.
“Obrigado a todos, boa noite, a quem ajudou. Que Deus abençoe a quem colaborou e a quem não pode dar nada também, mas me ouviu e, mesmo não tendo nada com isso, me prestigiou emprestando “seus ouvido” aos “meus clamor””.
Agradeceu ao motorista e, pela mesma porta que adentrou no coletivo, saiu. Acompanhei sua figura e percebi que, às carreiras, ingressou na lotação superlotada que vinha logo atrás.
“Boa noite, meus caros irmãos. Como podem ver, estou aqui pedindo a ajuda de vocês para comprar alimentos para minha família. Tenho mulher, três filhos menores, a minha do meio, sofre de bronquite asmática crônica e eu não tenho recursos nem condições de chegar na farmácia e comprar os medicamentos que o médico receitou”.
Faz uma pausa breve. E segue, aos gritos:
“Minha esposa era empregada doméstica, lavava, passava, e cozinhava para um ricaço que morava numa mansão lá para as bandas de Água de Cima. Como moramos longe e não dava para ela ir e voltar todos os dias, ela dormia no emprego. Ontem, coitada, ela foi mandada embora porque o patrão dela, um sujeito safado, pilantra, vinha, há tempos, fazendo “propostas indecente”, dando cantadas e mais cantadas”.
Nesse momento, começa a chorar:
“Queria abusar dela, de qualquer jeito e para isso, vivia pedindo para minha esposa ser boazinha e se deitar com ele. Em troca, meus irmãos, ele disse que daria dinheiro, roupas e joias. Como minha esposa é crente, e temente à Deus, ela veio enrolando o desgraçado. Veio engabelando dia após dia, semana após semana. Sexta-feira agora, o infeliz chegou mais cedo e resolveu passar a “carroça adiante dos burros.
“Aproveitando que a sua mulher ainda não havia chegado da escola, onde leciona inglês, o calhorda partiu para cima de minha esposa, rasgou as vestes dela, e arrastou a indefesa para um dos banheiros. Minha esposa começou a gritar, e, graças a Deus, o endemoniado largou dela. Minha querida esposa se ajoelhou e orou.
“No final da oração, meus irmãos, ela disse estas palavras: ‘Vade retro, Satanás’ e, graças ao bom Deus, misericordioso, um milagre aconteceu. O tinhoso passou a mão nas chaves de seu carro e foi pra rua”.
Faz uma nova pausa e enxugou as lágrimas:
“Quando a patroa chegou, minha esposa relatou o ocorrido, mas, a mulher, disse que ela estava mentindo, acertou os ‘dias trabalhado’ e mandou ela embora. Por isto, meus amados irmãos, ao invés de eu estar roubando, ou assaltando, fumando maconha ou pedra de craque, eu estou aqui pedindo aos irmãos, se Deus tocar nos “seus coração” e puder me ajudar com dez, vinte, cinquenta centavos eu ficarei agradecido. Você que é pai, você que é mãe, sabe como é difícil quando “os filho” da gente pede um pão pra comer e a dispensa está vazia, sem nada.
“Me ajudem, irmãos. Quero deixar um versículo para que meditem e através dele Deus abençoe a vocês e toque seu coração. Provérbios, capítulo 27, versículo 7, diz assim: ‘quem está com o estômago cheio rejeita até o mel; mas, para quem está com fome, até a comida amarga é doce’.
“Obrigado a todos, boa noite, a quem ajudou. Que Deus abençoe a quem colaborou e a quem não pode dar nada também, mas me ouviu e, mesmo não tendo nada com isso, me prestigiou emprestando “seus ouvido” aos “meus clamor””.
Agradeceu ao motorista e, pela mesma porta que adentrou no coletivo, saiu. Acompanhei sua figura e percebi que, às carreiras, ingressou na lotação superlotada que vinha logo atrás.
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Texto enviado pelo autor.
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