Há na “Casa de Benedito Moreira” uma escultura de Constantin Meunier. Consta, porém, ser do brasileiro a peça. Chama-se Homem cansado, e deve ser de 1891.
Na “Casa”, dirigida por Heloísa Moreira, bisneta do escultor cearense, estão alguns utensílios domésticos e objetos de trabalho usados e utilizados por Benedito. Sem contar esculturas e quadros tidos como de sua autoria. Os mais valiosos seriam uma estátua de Napoleão, um retrato de Darwin, máscara de Brahms. Os quadros parecem imitações de obras famosas. O mais estranho é copiarem pintores de todas as épocas: Hugo van der Goes e Grant Wood, Adriaen van Ostade e Toulouse-Lautrec, Hans Holbein e Paul Cézanne, numa miscelânea dos diabos.
O escultor-pintor brasileiro viveu na Bélgica, entre os anos de 1887 e 1896. Teria sido “discípulo” de Meunier. E também amigo de James Ensor. Obras como “A entrada de Cristo em Bruxelas” e “Máscaras singulares” teriam nascido diretamente da orientação de Benedito. Soltasse mais a fantasia. Introduzisse nas cenas do cotidiano figuras de sonho, como máscaras e esqueletos.
Meunier teria lamentado o destino de seu colega. Aquilo levaria Ensor ao fracasso. Ninguém compraria seus quadros. E Moreira teria respondido: melhor para você, meu caro discípulo.
Para Caio Barroso, no entanto, tudo isso é mentira. Há uma só verdade: Benedito furtou esboços de James Ensor e de Constantin Meunier.
Heloísa não chegou a conhecer o bisavô famoso. Desde cedo, porém, dedicou-se a seguir os passos de Benedito — quer pintando e esculpindo, quer preservando-lhe a memória. Escreveu até um livro: A Influência de Benedito Moreira na Obra de Constantin Meunier. Um equívoco clamoroso, segundo Caio Barroso. Ora, se influência tivesse havido, o influenciado teria sido Benedito. Como não pintou nem esculpiu nada durante sua longa vida, a influência não existiu. E, por não constar ter Meunier sido gatuno, a verdadeira arte de Moreira nada deve ao belga. E Caio assim define seu compatrício: “astuto ladrão de esboços, quadros e esculturas. Mais um trapaceiro no mundo das artes”.
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Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira. Brasília/DF: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.
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