Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.
Quem raiva de mim tiver,
grande paixão há de ter,
há de ladrar como cão,
mas sem lograr me morder.
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0 cachorro está latindo
lá pra banda do chiqueiro;
— Cala a boca, cachorrinho,
não sejas mexeriqueiro.
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Cachorro que late grosso
é bonito, quando acua.
Um amor, quando é de gosto,
ai, meu Deus, que coisa boa!
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Todo animal traiçoeiro
onde pastou, quer pastar:
Quando eu saio dos teus braços
é já pensando em voltar.
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Menina, minha menina,
como estás tão bonitinha...
No reino do céu se vejam
tua mãe, tua madrinha.
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A batata, quando nasce,
deita a raiz pelo chão.
Menina quando se deita
bota a mão no coração.
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Não tem confiança em si
estas meninas de agora...
Entregam-se, corpo e alma,
ao primeiro que as namora.
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Menina, aproveita o tempo,
quem espera, desespera,..
Olha que o tempo perdido
nunca mais se recupera...
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Menina não tenhas pressa
tua hora de chegar
Tu tens tempo de escolher,
vai com tempo e devagar...
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Estas meninas de agora
só querem é namorar.
Botam panelas no fogo
e não sabem temperar.
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Menina, rainha menina,
minha flor de cananeia,
tu nasceste neste mundo
pra seres minha teteia.
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Menina, diz-me o teu nome
e também tua morada,
eu tenho um cavalo gordo
e um galope não é nada...
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Menina da saia branca
já não falas com ninguém;
Quando a saia se romper,
fala comigo, meu bem.
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Esta menina faceira
com todos dizem que manga,
comigo é perder seu tempo
inda que chore pitanga!
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A pimentinha mordida
rabeia, desesperada,
e assim certa menina
quando fica despeitada.
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Lá se vai o sol entrando
deixando raios atrás.
Tanta morena bonita,
que pena eu não ser rapaz!
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Laranjeira ao pé da porta,
na cama me vai o cheiro.
Tanta mocinha bonita
Para mim que sou solteiro!
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No alto daquele morro,
passa boi, passa boiada,
também passa a moreninha
da trancinha cacheada.
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Morena, minha morena,
não tenhas pena do chão...
Tomara achar quem me diga
onde viu mais perfeição.
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Cajueiro pequenino,
carregadinho de flor,
eu também sou pequenina
carregadinha de amor...
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Moreninha, doce de ovos
não se come sem canela...
Quem é gente de bom gosto
não pode passar sem ela...
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0 teu rosto de morena
levemente tem a cor,
para o poder comparar
não encontro uma só flor.
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As morenas da Bahia
todas têm um certo quê,
temperam a vida da gente
como à moqueca o dendê.
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Morena, você me mata
com essa graça que tem;
Você fica criminosa
e eu sem você, meu bem!
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Uma morena bonita
não precisa mais rezar:
Basta o encanto que tem
pra sua alma se salvar.
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Menina quando eu te vi
despedir, sem me falar,
me fugiu a cor do rosto -
e o coração do lugar.
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Em mortalha de papel
fumo verde não fumega,
onde há moça bonita
meu coração não sossega.
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Quem me dera ser a seda,
depois da seda o cetim,
para andar de mão em mão,
As moças pegando em mim.
Fonte:
Disponível em Domínio Público
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.
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