quarta-feira, 14 de junho de 2023

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 15

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.


Tico-tico no terreiro
quando chove não se molha.
Onde há moça solteira
pras casadas não se olha.
= = = = = = = = =

Moça bonita é veneno,
mata tudo que é vivente,
Embebeda as criaturas,
tira a vergonha da gente.
= = = = = = = = =

A laranja de madura
caiu na água foi ao fundo.
Triste da moça solteira
que cai na boca do mundo.
= = = = = = = = =

Quem quiser escolher moça,
deve escolher pelo andar.
Toda a moça que é faceira
pisa no chão devagar.
= = = = = = = = =
Quem quiser ter seu sossego,
case com moça faceira,
já namorou muitos homens,
não cai mais na brincadeira.
= = = = = = = = =

A pedra que muito rola,
limo não chega a criar:
A moça que ri pra todos
a nenhum consegue amar.
= = = = = = = = =

Alecrim da beira d'água
de viçoso está pendendo,
estas mocinhas de hoje
de faceiras vão morrendo.
= = = = = = = = =

Se vejo moça corada
fico do amor abrasado;
Moça pálida e franzina
põe-me todo derrotado...
= = = = = = = = =

A moça que não tiver
seu neném para brincar,
pode ficar na certeza
que no céu não há de achar.
= = = = = = = = =

Pescador que andas pescando
para as bandas do sul,
pescador, vê se me pescas
a moça do lenço azul.
= = = = = = = = =

Fui menina, já não sou,
achei consolo pra mágoa:
Moços não sabem amar,
pote velho dá boa água.
= = = = = = = = =

Os teus olhos mais os meus
têm o mesmo parecer;
Mas os teus têm um jeitinho
que põem os meus a perder...
= = = = = = = = =

De tanto, tanto, te olhar,
com os teus, meus olhos troquei.
Como a troca se arranjou
sabes tu... pois eu não sei.
= = = = = = = = =

0 cipó no mato bravo
agarra o jacarandá,
assim menina teus olhos
agarrado me tem já.
= = = = = = = = =

Estes teus olhos, menina,
são confeitos, não se vendem;
São balas com que me atiram,
correntes com que me prendem.
= = = = = = = = =

Encontrei estes teus olhos
domingo, à hora da missa.
Arrenego* desses olhos,
prendem mais do que justiça.
= = = = = = = = = 
* Arrenego = zanga
= = = = = = = = =
As folhas da bananeira
mexem co'o sopro do vento,
estes teus olhos, menina,
mexem co’o meu pensamento.
= = = = = = = = =

Sei ler e sei escrever,
sei somar, diminuir,
só a graça dos teus olhos
nunca pude repartir.
= = = = = = = = =

Teus olhos têm tanta luz,
que não sei, por que segredo,
quando eu olho pra teus olhos,
estremeço, tenho medo.
= = = = = = = = =

Teu olhar, moça bonita,
eu sou capaz de atestar,
se o sol apagasse o mundo
servia pra alumiar...
= = = = = = = = =

Olhos prelos, olhos pardos,
olhos azuis soberanos,
essas três classes de olhos
para mim foram tiranos.
= = = = = = = = =

Entra o amor pelos olhos
vai ao peito direitinho,
se não acha resistência
vai seguindo seu caminho...
= = = = = = = = =

Os olhos dos namorados
são como cartas fechadas,
que só leem sem abrir
os olhos das namoradas.
= = = = = = = = =

Quem quer bem logo se vê,
logo dá demonstração...
pelo pisquinho dos olhos,
e pelo aperto de mão.
= = = = = = = = =

Os olhos de meu benzinho
andam em leilão pela praça;
Não há dinheiro que pague
uns olhos de tanta graça.
= = = = = = = = =

Eu conheço uma menina
que é morena requebrada,
pois quando revira os olhos
põe minh'alma espedaçada.
= = = = = = = = =

A açucena quando nasce
vem abrindo, vem fechando;
Meu amor, quando me enxerga
vem todo se requebrando...

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.

Disponível em Domínio Público

Nenhum comentário: