Acendo velas ao santo
por velho costume, apenas;
calando o meu desencanto,
eu lhe poupo as cantilenas.
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Acusações e amarguras
selaram as despedidas,
gravando marcas escuras
na esquina de nossas vidas.
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A exemplo dos evangelhos,
fomos "firmes no combate";
e hoje, dois sólidos velhos,
já nada mais nos abate.
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A noite, ansiosa, insegura,
recorre à lua e desata
seus lamentos de amargura
pelas esteiras de prata.
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A quaresmeira cicia,
vencida aos caprichos mil
da brisa que acaricia
as suas flores de Abril.
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A quem foi bom companheiro
num momento de aflição,
se o transe foi passageiro,
sobrevive a gratidão.
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As lembranças do passado,
em cenário transparente,
dançam místico bailado
pela memória da gente.
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"A Terra é azul!!!" Lá da altura
não se percebe a incoerência,
camuflada a cor escura
das guerras, droga e violência.
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Como acontece às cigarras,
os meus sonhos, represados,
soltando-se das amarras,
rebentam-se aos próprios brados.
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Das cinzas de um coração
persiste em triste orfandade,
no rescaldo da ilusão,
a presença da saudade.
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Do mundo aos males gritantes,
extenuada, a anciã
pede a Deus que a leve antes
que recomece o amanhã.
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Entre as mofadas estantes
do museu de nossas vidas,
choram fantasmas errantes,
buscando a ilusão perdida.
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Esse amor que eu, sem cautela,
quis resgatar à lembrança,
deixou-me dupla sequela:
saudade e desesperança.
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Esta minha estranha história
arrasta, em contradição
ao meu nome de... Vitória,
fracasso e desilusão.
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Minha ilusão se rendendo
à rudeza do combate,
mesmo quase fenecendo,
ainda espera um resgate.
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Na inspiração que o norteia
Trovador não se limita;
vai gravar na lua cheia
sua trova mais bonita.
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Não creio vindo de Deus
em nossa vida, um tormento;
d’Ele só vem para os seus
conforto no sofrimento.
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No ângelus voa uma prece
velando o sol a morrer,
e o azul do céu esmaece
no painel do entardecer.
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No Brasil-quinhentos anos,
que Deus, de eterna clemência,
torne os homens mais humanos,
sem fome, droga e violência!
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No velho tronco tombado,
um registro carcomido:
Um coração trespassado
pela flecha de Cupido.
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No verão eu fui cigarra,
desafiava destinos;
hoje esta voz se desgarra
para chorar desatinos.
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Ouvindo o Sermão do Monte,
ao mundo banhado em luz,
abre-se um novo horizonte
nas palavras de Jesus.
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Para compor uma trova,
quadra pequena e exigente,
por certo, ao cumprir a prova,
mão divina... guia a gente..
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Quem admira esse teu talhe
de deusa, ignora a verdade:
Com tão vistoso detalhe,
disfarças tua maldade…
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Resta do antigo delírio
que nos trazia extasiados,
a débil chama de um círio
sobre uma campa, em Finados.
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Tem cautela quando dizes
teus conceitos para alguém!
As palavras têm raízes
que o pensamento não tem.
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Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Painel do entardecer. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2013.
Enviado pela trovadora.
Dorothy Jansson Moretti. Painel do entardecer. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2013.
Enviado pela trovadora.
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