É... Quase nada resta... Só algumas daquelas numerosas e frondosas árvores, que enfeitavam o Parque Halfeld, há muitos, muitos anos atrás...
Percorreu, com os olhos cansados, as alamedas que levavam ao caramanchão. Enxergou, com os olhos da mente, a água cristalina, pontilhada por peixinhos vermelhos, que iam e vinham em seu frescor.
Sem perceber a grande área central, curtida pelo sol causticante e desabrigada da vegetação que, anteriormente, a protegia, ouviu sons que vinham da PRB3, a estação de rádio da cidade, cujo prédio ficava bem no meio do Parque. Perdeu-se no mundo de sonhos, trazidos pelas histórias da Tia Violeta, programa favorito do menino que não era mais.
A sujeira do chão e o cheiro de urina, naquele momento, também lhe passaram despercebidos. Estava ali, porém longe no tempo. Voltara às suas brincadeiras de criança, às correrias com os amiguinhos, à caixa de areia sem perigo de contaminação pela defecação de gatos, cães e até mesmo de ratos.
Tampouco, notou a garota, quase-menina, que veio se encostando a ele de modo insinuante. Não fosse a catarata que lhe dificultava a leitura dos jornais, talvez, tivesse lido a grande manchete, na primeira página da Tribuna — "Prostituição infantil no Parque Halfeld" — e chegado à deprimente constatação.
De repente, baixou um cansaço... Um torpor, um peso no corpo e na alma, uma tristeza que lhe fechava os olhos para tentar voltar ao sonho e não enxergar a dura realidade. Não, aquele não era mais o Parque Halfeld. Sentou-se num dos bancos empoeirados que circundavam o parque e, cabisbaixo, deparou com seus próprios braços, enrugados, ressequidos, sem viço...
— É, pensou... Meus braços, as árvores... Casca ressecada, galhos retorcidos, marcados pelo tempo... Cicatrizes, cortes profundos que atingem o tronco e o coração... O que resta do Parque Halfeld? O que resta de mim?
Percorreu, com os olhos cansados, as alamedas que levavam ao caramanchão. Enxergou, com os olhos da mente, a água cristalina, pontilhada por peixinhos vermelhos, que iam e vinham em seu frescor.
Sem perceber a grande área central, curtida pelo sol causticante e desabrigada da vegetação que, anteriormente, a protegia, ouviu sons que vinham da PRB3, a estação de rádio da cidade, cujo prédio ficava bem no meio do Parque. Perdeu-se no mundo de sonhos, trazidos pelas histórias da Tia Violeta, programa favorito do menino que não era mais.
A sujeira do chão e o cheiro de urina, naquele momento, também lhe passaram despercebidos. Estava ali, porém longe no tempo. Voltara às suas brincadeiras de criança, às correrias com os amiguinhos, à caixa de areia sem perigo de contaminação pela defecação de gatos, cães e até mesmo de ratos.
Tampouco, notou a garota, quase-menina, que veio se encostando a ele de modo insinuante. Não fosse a catarata que lhe dificultava a leitura dos jornais, talvez, tivesse lido a grande manchete, na primeira página da Tribuna — "Prostituição infantil no Parque Halfeld" — e chegado à deprimente constatação.
De repente, baixou um cansaço... Um torpor, um peso no corpo e na alma, uma tristeza que lhe fechava os olhos para tentar voltar ao sonho e não enxergar a dura realidade. Não, aquele não era mais o Parque Halfeld. Sentou-se num dos bancos empoeirados que circundavam o parque e, cabisbaixo, deparou com seus próprios braços, enrugados, ressequidos, sem viço...
— É, pensou... Meus braços, as árvores... Casca ressecada, galhos retorcidos, marcados pelo tempo... Cicatrizes, cortes profundos que atingem o tronco e o coração... O que resta do Parque Halfeld? O que resta de mim?
Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Enviado pela autora
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
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