sexta-feira, 23 de junho de 2023

J. G. de Araújo Jorge (Inspirações de Amor) XXXI


TÃO SIMPLES ESTE AMOR...
 
 Tão simples este amor nasceu... Nós nem notamos
 que era amor e afeição que aos poucos nos prendia...
 O amor, - é aquela flor que engrinalda dois ramos
 aos esponsais de luz do sol de cada dia!
 
 Dois ramos, - eu e tu, - e as horas desfolhamos
 numa doce, irrequieta e impensada alegria,
 - e assim vamos vivendo, e a viver, acenamos
 sonhos verdes aos céus azuis da fantasia!
 
 Tão simples este amor nasceu... Tal como nasce
 um beijo em tua boca, um riso em tua face,
 uma estrela no céu... ou uma flor de um botão.. .
 
 Nem era necessário mesmo eu te falar,
 se já o tens transformado em luz no teu olhar,
 e eu, já o sinto a cantar, dentro do coração!
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TARDE DEMAIS

Crescemos sempre assim, unidos - desde crianças
vivemos como irmãos e, afinal, só depois
que o tempo nos mudou, é que eu e tu, nós dois,
descobrimos no amor as nossas esperanças...

Mas foi tarde demais... Eu já tinha tomado
um rumo diferente - e o meu caminho e o teu
cada qual do princípio um dia se esqueceu,
e seguiu, cada qual, um rumo inesperado...

Quantos anos!... Meu Deus!... É esquisita esta vida...
Depois que a nossa estrada em duas foi partida
em uma novamente, o mundo as quis juntar.. .

Mas de nada serviu... De que serviu nos vermos
se o presente tornou os nossos sonhos ermos,
- se não podes me amar!... se não posso te amar!...
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TIMIDEZ

Eu sei que é sempre assim, - longe dela imagino
mil versos que não fiz mas que ainda hei de compor,
perto dela, - meu Deus!... lembro mais um menino
que esquecesse a lição diante do professor...

Penso, que a minha voz terá sons de violino
enchendo os seus ouvidos de canções de amor,
- e hei de deixá-la tonta ao vinho doce e fino
dos meus beijos, no instante em que minha ela for...

Ao seu lado, no entanto, encabulado, emudeço,
e se os seus lábios frios, trêmulos, se calam,
eu, de tudo, das coisas, de mim mesmo, esqueço...

E ficamos assim, ela em silêncio... eu, mudo...
Mas meus olhos, nem sei... ah! Quantas coisas falam!
e seus olhos, seus olhos!... dizem tudo, tudo!
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TONTA...

Dizes que ficas tonta... quando em tua boca
ergo a taça da minha a transbordar de beijos,
e te dou a beber dessa champanhe louca
que espuma nos meus lábios para os teus desejos.

Dizes... E em teu olhar incendiado talvez,
como que tonto mesmo e ardendo de calor,
vejo se refletir minha própria embriaguez
e o mundo de loucura que há no nosso amor...

E receio por ti e por mim, e receio
que um dia ao te sentir tão junto, eu enlouqueça
e aperte no meu peito a maciez do teu seio...

Dizes que ficas tonta... Hás de então ficar louca!
E eu tomando entre as mãos tua loura cabeça
hei de fazer sangrar de beijos tua boca! …
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TUA CARTA

A carta que escreveste é a oração que repito
todas as noites, sempre, antes de me deitar,
à hora em que abro a janela ao azul do infinito
e me ausento de tudo... e me esqueço a sonhar...

Eu, descrente da terra e dos homens, descrente
mais ainda dos céus, com bem maior razão,
murmuro a tua carta religiosamente
pois fiz do teu amor a minha religião...

Tua carta, nem sei... releio-a a todo instante,
ela acende em meus olhos tristes alegrias
e me faz esquecer que te encontras distante...

Paradoxos talvez, mentiras!... Não te esqueço
se toda noite assim ( há não sei quantos dias ),
com teu nome em meus lábios... rezando adormeço!…

Fonte:
JG de Araújo Jorge. Meus sonetos de amor. RJ: Ed. do Autor, 1961.

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