Era uma vez uma cegonha que trazia no bico mais um candidato à vida. Seria chamado Chiquinho. A mãe, o pai, os avós, os irmãozinhos, os tios, os primos, os padrinhos, os compadres, a família inteira preparando a festa.
A cegonha voava, revoava, sobrevoava, não aterrissava. Olhava de cima e tremia. De medo.
Até que ponto seria prova de amor entregar uma criança a um mundo assim?
Olhem o que fizeram da natureza: mataram as matas, envenenaram as aves e os peixes, emporcalharam as águas, enfumaçaram o ar. Cadê o verde, meu Deus? Cadê o azul?
Olhem o que fizeram das cidades: um amontoado de cimento e aço, motores roncando, sirenes espalhando pânico, gente correndo, brigando, sofrendo, morrendo.
Olhem o que fizeram dos lugares de morar: cortiços, favelas, janelas com grades, famílias engaioladas em enormes viveiros chamados arranha-céus.
Olhem o que fizeram das praças e dos jardins: onde os namorados? O ladrão espantou. Onde as bandas com as suas alegres retretas? A secura dos corações silenciou. Onde os sabiás e os bem-te-vis? O inseticida exterminou. Onde as flores? A poeira do asfalto sufocou. Onde os garotos que brincavam nas ruas? O trânsito alucinado atropelou.
Olhem o que fizeram do sossego da gente: não há mais sossego. Há medo de tudo: da bactéria, do vírus, do desemprego, da seca, da enchente, da guerra.
A cegonha voava, revoava, sobrevoava, tinha medo de aterrissar. O pai, a mãe, os irmãozinhos, a família inteira, todos felizes, esperando a nova pessoinha.
Ao mesmo tempo agitados, preocupados. A conta da maternidade, o aluguel, o preço do leite, a mensalidade da escola. Os sustos mais tarde: era um menino, ia querer moto ou carro, ia entrar num mundo louco cheio de perigos e tão competitivo. Os pais pensavam. A cegonha, lá do jeito dela, repensava. O que é melhor: to be or not to be? Viver ou não viver num mundo assim?
Melhor viver. A cegonha sobrevoou, pousou. Chiquinho desembarcou.
Quem sabe será ele o iniciador de um mundo novo?
Alguém já disse e muita gente já repetiu: “Cada criança que nasce é uma nova prova de que Deus continua apostando na humanidade”.
Deus apostou em Chiquinho. Bem-vindo Chiquinho.
Algum dia, talvez, possamos recitar: Cadê a floresta daqui? Chiquinho replantou. Cadê os rios daqui? Chiquinho recuperou. Cadê os passarinhos daqui? Chiquinho ressuscitou. Cadê as flores? Cadê a paz? Cadê o amor? Cadê a vida? Chiquinho reinaugurou.
Bem-vindo Chiquinho.
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A cegonha voava, revoava, sobrevoava, não aterrissava. Olhava de cima e tremia. De medo.
Até que ponto seria prova de amor entregar uma criança a um mundo assim?
Olhem o que fizeram da natureza: mataram as matas, envenenaram as aves e os peixes, emporcalharam as águas, enfumaçaram o ar. Cadê o verde, meu Deus? Cadê o azul?
Olhem o que fizeram das cidades: um amontoado de cimento e aço, motores roncando, sirenes espalhando pânico, gente correndo, brigando, sofrendo, morrendo.
Olhem o que fizeram dos lugares de morar: cortiços, favelas, janelas com grades, famílias engaioladas em enormes viveiros chamados arranha-céus.
Olhem o que fizeram das praças e dos jardins: onde os namorados? O ladrão espantou. Onde as bandas com as suas alegres retretas? A secura dos corações silenciou. Onde os sabiás e os bem-te-vis? O inseticida exterminou. Onde as flores? A poeira do asfalto sufocou. Onde os garotos que brincavam nas ruas? O trânsito alucinado atropelou.
Olhem o que fizeram do sossego da gente: não há mais sossego. Há medo de tudo: da bactéria, do vírus, do desemprego, da seca, da enchente, da guerra.
A cegonha voava, revoava, sobrevoava, tinha medo de aterrissar. O pai, a mãe, os irmãozinhos, a família inteira, todos felizes, esperando a nova pessoinha.
Ao mesmo tempo agitados, preocupados. A conta da maternidade, o aluguel, o preço do leite, a mensalidade da escola. Os sustos mais tarde: era um menino, ia querer moto ou carro, ia entrar num mundo louco cheio de perigos e tão competitivo. Os pais pensavam. A cegonha, lá do jeito dela, repensava. O que é melhor: to be or not to be? Viver ou não viver num mundo assim?
Melhor viver. A cegonha sobrevoou, pousou. Chiquinho desembarcou.
Quem sabe será ele o iniciador de um mundo novo?
Alguém já disse e muita gente já repetiu: “Cada criança que nasce é uma nova prova de que Deus continua apostando na humanidade”.
Deus apostou em Chiquinho. Bem-vindo Chiquinho.
Algum dia, talvez, possamos recitar: Cadê a floresta daqui? Chiquinho replantou. Cadê os rios daqui? Chiquinho recuperou. Cadê os passarinhos daqui? Chiquinho ressuscitou. Cadê as flores? Cadê a paz? Cadê o amor? Cadê a vida? Chiquinho reinaugurou.
Bem-vindo Chiquinho.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 30-3-2023)
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